O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, passa suas determinações ao presidente francês, François Hollande, durante uma cerimônia de boas-vindas no aeroporto de Ben Gurion, perto de Tel Aviv, Israel (Foto: Ariel Schalit/AP)
THIERRY MEYSSAN: FRANÇOIS HOLLANDE, O ETERNO SIONISTA
“François Hollande elegeu-se presidente cultivando ambiguidades. Bastaria, no entanto, ler as suas declarações prévias para constatar o apoio inconteste ao Estado de Israel.
A mudança que havia anunciado aos eleitores não aconteceu. Foi, pelo contrário, a continuidade da política do seu predecessor. Vê-se, assim, que a França abandonou progressivamente a sua política de independência para se alinhar ao lado dos EUA e do último Estado colonial [Israel].
Por Thierry Meyssan, no “Al-Watan” (Síria)
Alguns comentaristas explicaram a posição francesa, quando das negociações “5+1” com o Irã, como ditadas pela Arábia Saudita, ou fazendo ainda referência ao judaísmo do seu ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius. Ora, é ignorar que, em nove anos, a política francesa no Oriente Médio mudou profundamente.
Tudo começou em 2004, com a ruptura entre Jacques Chirac e Bachar al-Assad. O presidente sírio tinha prometido ao seu homólogo francês favorecer a “Total” (companhia francesa de petróleo) numa concorrência oficial. Mas, quando a proposta francesa chegou ao palácio presidencial, ela era tão desvantajosa para o país que o presidente sírio mudou de opinião. Furioso, Jacques Chirac rompeu com a Síria e apresentou a Resolução nº 1559 ao Conselho de Segurança da ONU.
Depois, os franceses elegeram Nicolas Sarkozy, sem saber que ele tinha sido parcialmente criado por um dos principais chefes da CIA, Frank Wisner Jr. Como se lhe não bastasse Sarkozy ter sido fabricado pelos Estados Unidos, ele arranjou uma descoberta de suas raízes judias [o pai de Sarkozy era judeu húngaro] e cultivou com afinco as suas relações israelenses. A sua política internacional era ditada por Washington, mas como na época não havia diferença entre a de Israel e a dos Estados Unidos, ele surgia, de fato, como fazendo bloco com eles.
Por Thierry Meyssan, no “Al-Watan” (Síria)
Alguns comentaristas explicaram a posição francesa, quando das negociações “5+1” com o Irã, como ditadas pela Arábia Saudita, ou fazendo ainda referência ao judaísmo do seu ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius. Ora, é ignorar que, em nove anos, a política francesa no Oriente Médio mudou profundamente.
Tudo começou em 2004, com a ruptura entre Jacques Chirac e Bachar al-Assad. O presidente sírio tinha prometido ao seu homólogo francês favorecer a “Total” (companhia francesa de petróleo) numa concorrência oficial. Mas, quando a proposta francesa chegou ao palácio presidencial, ela era tão desvantajosa para o país que o presidente sírio mudou de opinião. Furioso, Jacques Chirac rompeu com a Síria e apresentou a Resolução nº 1559 ao Conselho de Segurança da ONU.
Depois, os franceses elegeram Nicolas Sarkozy, sem saber que ele tinha sido parcialmente criado por um dos principais chefes da CIA, Frank Wisner Jr. Como se lhe não bastasse Sarkozy ter sido fabricado pelos Estados Unidos, ele arranjou uma descoberta de suas raízes judias [o pai de Sarkozy era judeu húngaro] e cultivou com afinco as suas relações israelenses. A sua política internacional era ditada por Washington, mas como na época não havia diferença entre a de Israel e a dos Estados Unidos, ele surgia, de fato, como fazendo bloco com eles.
Durante dez anos, François Hollande havia sido designado como secretário-geral do seu partido em razão da sua mediocridade: não dirigindo nenhuma corrente, e não sendo vassalo de nenhum líder, ele podia controlar a situação mantendo para isso um equilíbrio entre os pretendentes ao Eliseu (palácio-sede da presidência francesa). Ele esforçou-se para nunca mostrar uma opinião pessoal que o obrigasse a ser o mais transparente possível. De tal maneira que, durante a sua campanha eleitoral presidencial, qualquer um acreditava estar perante um homem moderado que saberia rodear- se de personalidades experimentadas. Os seus eleitores foram nisso as primeiras vítimas.
A face real de François Hollande só se revelou uma vez chegado ao Eliseu. Perito em política interna, ele não sabia grande coisa de relações internacionais. Nesse domínio, as suas convicções advinham-lhe de ilustres personalidades socialistas.
Assim, colocou a sua investidura sob os auspícios de Jules Ferry, teórico da colonização. No “Le Figaro”, o seu amigo, o presidente israelita Shimon Perez comparou-o, elogiosamente, a Léon Blum e a Guy Mollet, mesmo que este último não seja particularmente popular na França. Em 1936, o primeiro havia proposto copiar o Reino Unido (referência do autor à “Declaração de Balfour”) para criar o Estado de Israel no Líbano, que estava então sob mandato francês. Em 1956, o segundo tentou apoderar-se do Canal do Suez com a ajuda do exército israelense.
Durante os seus dez anos à cabeça do Partido socialista, François Hollande limitou as suas intervenções sobre o Oriente Médio. Eis, pois, aqui um breve resumo:
• Em 2000, enquanto o Sul do Líbano é ocupado, ele prepara com Bertrand Delanoe a viagem do Primeiro-ministro Lionel Jospin à Palestina. O seu discurso inclui uma condenação do Hezbolá, que ele compara a um "grupo terrorista".
• Em 2001, ele exigiu a demissão do geopolitólogo Pascal Boniface, culpado por ter criticado, numa nota interna, o apoio cego do Partido a Israel.
• Em 2004, ele escreveu ao “Conselho Superior do Audiovisual” para questionar a autorização de licença de emissão dada à “Al-Manar”. Ele só parou as pressões quando a emissora de televisão da Resistência foi abafada.
• Em 2005, ele foi recebido, à porta fechada, pelo Conselho representativo das instituições judaicas de França (CRIF). Segundo o relato transpirado da reunião, teria dado o seu apoio a Ariel Sharon, e teria criticado vivamente a política árabe gaulista. Ele teria declarado: "há uma tendência que remonta ao passado, e que chamam de “política árabe da França” e não é admissível que uma administração tenha uma ideologia. Há um problema de recrutamento no “Quai d’Orsay” (Ministério das Relações Exteriores da França) e na ENA, e esse recrutamento deveria ser reformulado".
• Em 2006, ele tomou posição contra o presidente Ahmadinejad, que convidara para Teerã rabinos e historiadores, alguns dos quais negacionistas (que negam o Holocausto). Ele fingiu ignorar o sentido do congresso, que visava mostrar que os europeus tinham substituído a sua cultura cristã pela religião do Holocausto. E, a contrasenso, ele explica que o presidente iraniano entende negar o direito dos israelenses a existir e que se apresta a prosseguir o Holocausto.
• Ele mobilizou-se pela libertação do soldado israelita Gilad Shalit, com a desculpa que este teria a dupla nacionalidade francesa. Pouco importa que o jovem tenha sido feito prisioneiro enquanto servia num exército de ocupação, em guerra contra a “Autoridade Palestina” igualmente aliada da França.
• Em 2010, ele publicou, junto com Bertrand Delanoe e Bernard-Henri Lévy, uma carta aberta no “Le Monde” para se opor ao boicote dos produtos israelenses. Segundo ele, o boicote seria uma punição coletiva, infligida também aos israelenses que "trabalham para a paz com os Palestinos". Um raciocínio que ele não mostrara quando de campanha similar contra o apartheid na África do Sul.
Em conclusão, antes da aproximação franco-saudita, e mesmo antes de ser presidente, François Hollande tinha já expresso o seu apoio ao Estado colonial israelense. E ele havia já condenado o eixo da Resistência (Irã, Síria, Hezbolá).
A verdade é, pois, inversa: aplicando o “Acordo de Quincy”, a Arábia Saudita reaproximou-se da França devido à sua política pró-israelense.
A política do Partido Socialista em geral e de François Hollande em particular encontra as suas raízes no colonialismo do século 19, onde Jules Ferry era um dos arautos e Theodor Herzl um promotor.
Hoje em dia, os sionistas do partido reagruparam-se, por iniciativa de Dominique Strauss-Kahn, no seio do discreto e poderoso “Circulo Léon Blum”, cujo presidente honorário, Jean-Marc Ayrault, se tornou o atual primeiro-ministro de François Hollande.
FONTE: escrito por Thierry Meyssan, no “Al-Watan” (Síria). O autor é intelectual francês, presidente-fundador da “Rede Voltaire” e da conferência “Axis for Peace”. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: “L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations” (ed. JP Bertand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): “La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación” (Monte Ávila Editores, 2008). Artigo transcrito na “Rede Voltaire” e no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=230122&id_secao=9). [Imagem do google e sua legenda adicionadas por este blog ‘democracia&política’].
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