Por Cristiano Romero, no jornal “Valor”
“Um ano depois de iniciado o atual ciclo de alívio monetário, o Banco Central (BC) mostrou que estava certo ao mudar radicalmente o rumo da política de juros. A principal alegação feita na época – o desaquecimento das principais economias do mundo e, em consequência, o surgimento de um ambiente desinflacionário – se materializou.
Ontem, o Comitê de Política Monetária (COPOM) promoveu mais um corte de meio ponto percentual na taxa SELIC, reduzindo-a para 7,50% ao ano, e é possível que faça pelo menos mais outro de 0,5 ponto antes de encerrar o ciclo. O BC acha que essa política, somada a outras que o governo vem adotando, já começou a produzir resultados. O clima em Brasília é de otimismo quanto às chances de a economia acelerar o crescimento nos próximos meses.
Quando o COPOM surpreendeu o mercado em agosto do ano passado, cortando o juro em vez de aumentá-lo, a expectativa de crescimento anual da Europa girava em torno de 1% a 2%. Hoje, o que se espera é recessão em 2013. No caso dos Estados Unidos, em meados de 2011, esperava-se crescimento em torno de 3%. Agora, a realidade mostra que a expansão neste ano deve beirar os 2% ou ficar abaixo disso.
DESAQUECIMENTO MUNDIAL PREVISTO PELO BC SE MATERIALIZOU
Há um ano, a expectativa era que a economia mundial crescesse até 3,4% em 2012. Com o agravamento da crise mundial no segundo semestre de 2011, as perspectivas foram piorando sucessivamente e, neste momento, o que se espera é longo período de crescimento lento, em torno de 2,2%.
O cenário desinflacionário se concretizou. A melhor indicação disso está nos indicadores de commodities. O CRB Foodstuff (que mede a variação dos preços de alimentos) estava, em julho, 8,9% abaixo do patamar de um ano atrás. O CRB Metais caiu 23,4% no mesmo período e o CRB total, 13,2%. Não é para menos. O desaquecimento da economia chinesa explica em grande medida essas quedas. A China, segundo o FMI, respondeu em 2009 por 53% das importações líquidas mundiais de soja, por 65% das compras de minério de ferro e por quase 30% de metais.
A economia brasileira, evidentemente, não escapou da maré ruim. No último ano, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 2,7% e, em 2012, deve avançar menos de 2%, muito abaixo da média anual de 4,2% verificada entre 2007 e 2011. A boa notícia é que há sinais positivos indicando retomada, mais lenta do que as ocorridas no passado recente, mas consistente.
É o próprio mercado quem diz, via boletim Focus, que o Brasil vai se levantar nos próximos trimestres. A esperança é que, depois de registrar baixíssimo crescimento nos primeiros seis meses do ano – 0,1% entre janeiro e março e, possivelmente, 0,3% entre abril e junho -, a indústria avance 1,5% no atual trimestre, quando comparada ao mesmo período do ano anterior, e 2,1% entre outubro e dezembro. O crescimento deve se acelerar no primeiro (3%) e segundo trimestres (4%) de 2013.
Com base no Focus, o BC espera expansão do setor de serviços de 3% em cada trimestre da segunda metade deste ano, quase o dobro da registrada no primeiro trimestre (1,6%). O ritmo seria mantido na primeira metade do ano que vem. Na agricultura, a expectativa é de forte recuperação nos próximos trimestres, depois da queda do primeiro trimestre (-8,5%) e do provável baixo desempenho no segundo (1,4%). Entre outubro e dezembro, a agricultura deve crescer 4% e acelerar nos seis meses seguintes, sempre na comparação com igual período do ano anterior.
A confiança do governo se baseia no que já vem ocorrendo em algumas áreas. A produção mensal de automóveis, por exemplo, depois de cair abaixo de 260 mil em janeiro, começou a se recuperar e, após o corte de IPI, tomou impulso. O mesmo ocorreu com caminhões. Os estoques de carros, que atingiram o pico em agosto de 2011, voltaram a crescer nos primeiros meses do ano, mas, depois da desoneração, estão declinando novamente.
O governo acredita que o ambiente é favorável à aceleração do PIB graças aos seguintes fatores: a taxa de desemprego está na mínima histórica (5,4% em maio, segundo a última medida nacional feita pelo IBGE); a criação de empregos formais diminuiu em quase 1 milhão desde fevereiro de 2011, mas segue forte (1,2 milhão nos 12 meses até junho deste ano); a massa salarial real voltou a crescer, avançando 5,1% nos 12 meses concluídos em maio (7,5%, quando comparada ao mesmo mês de 2011); a renda real também tornou a expandir-se (3,2% nos 12 meses até maio e 4,9% na comparação com maio do ano passado).
Ao contrário dos analistas que apontam a exaustão do modelo de crescimento baseado em consumo e crédito, o BC vê espaço para o país continuar crescendo por esse esquema, ajudado pelas medidas adotadas pelo governo para expandir a infraestrutura e aumentar a competitividade. O BC aposta no efeito “juros menores” – entre setembro de 2011 e junho deste ano, o juro médio cobrado de pessoas físicas caiu de 45,7% para 37,1% ao ano; e o das empresas recuou de 39% para 31,3% ao ano.
Embora a queda da SELIC tenha sido expressiva – 4,5 pontos no período -, a redução dos juros bancários foi modesta. Ainda assim, as autoridades acreditam que o crédito, mesmo crescendo a uma velocidade menor, cumprirá papel importante na retomada. Entre 2005 e 2008, cresceu ao ritmo de 25,2% ao ano; entre 2009 e 2011, subiu 18,3% e, nos 12 meses até maio, manteve essa velocidade (18,1%).
Técnicos do governo lembram que o grau de endividamento dos brasileiros, como proporção do PIB, é baixo quando comparado ao de outros países – 20,9% do PIB, face a 27,9% no Chile, 83,5% nos Estados Unidos e 207,4% do PIB no Reino Unido. O problema é que o peso dos juros na renda disponível dos brasileiros é bem maior – 22,1%, diante de 10,8% nos EUA, 9,9% no Chile e 2,2% no México. Em compensação, a inadimplência no Brasil não está entre as maiores do mundo.
Nem tudo é alegria no primeiro aniversário do “novo BC”. A inflação, embora tenha recuado de forma significativa, ainda é alta (5,2% nos 12 meses até julho); o BC segue sem conseguir coordenar satisfatoriamente as expectativas inflacionárias, que apontam para aumento do IPCA em 2013 (para 5,5%); e o regime de câmbio flutuante, um dos pilares da política econômica adotada com sucesso pelo país desde 1999, foi (temporariamente?) abandonado.”
FONTE: reportagem de Cristiano Romero publicada no jornal “Valor Econômico” e transcrita no blog de Luis Favre (http://blogdofavre.ig.com.br/2012/08/as-razoes-do-otimismo-do-governo/) [Imagem obtida no Google e adicionada por este blog ‘democracia&política’].
“Um ano depois de iniciado o atual ciclo de alívio monetário, o Banco Central (BC) mostrou que estava certo ao mudar radicalmente o rumo da política de juros. A principal alegação feita na época – o desaquecimento das principais economias do mundo e, em consequência, o surgimento de um ambiente desinflacionário – se materializou.
Ontem, o Comitê de Política Monetária (COPOM) promoveu mais um corte de meio ponto percentual na taxa SELIC, reduzindo-a para 7,50% ao ano, e é possível que faça pelo menos mais outro de 0,5 ponto antes de encerrar o ciclo. O BC acha que essa política, somada a outras que o governo vem adotando, já começou a produzir resultados. O clima em Brasília é de otimismo quanto às chances de a economia acelerar o crescimento nos próximos meses.
Quando o COPOM surpreendeu o mercado em agosto do ano passado, cortando o juro em vez de aumentá-lo, a expectativa de crescimento anual da Europa girava em torno de 1% a 2%. Hoje, o que se espera é recessão em 2013. No caso dos Estados Unidos, em meados de 2011, esperava-se crescimento em torno de 3%. Agora, a realidade mostra que a expansão neste ano deve beirar os 2% ou ficar abaixo disso.
DESAQUECIMENTO MUNDIAL PREVISTO PELO BC SE MATERIALIZOU
Há um ano, a expectativa era que a economia mundial crescesse até 3,4% em 2012. Com o agravamento da crise mundial no segundo semestre de 2011, as perspectivas foram piorando sucessivamente e, neste momento, o que se espera é longo período de crescimento lento, em torno de 2,2%.
O cenário desinflacionário se concretizou. A melhor indicação disso está nos indicadores de commodities. O CRB Foodstuff (que mede a variação dos preços de alimentos) estava, em julho, 8,9% abaixo do patamar de um ano atrás. O CRB Metais caiu 23,4% no mesmo período e o CRB total, 13,2%. Não é para menos. O desaquecimento da economia chinesa explica em grande medida essas quedas. A China, segundo o FMI, respondeu em 2009 por 53% das importações líquidas mundiais de soja, por 65% das compras de minério de ferro e por quase 30% de metais.
A economia brasileira, evidentemente, não escapou da maré ruim. No último ano, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 2,7% e, em 2012, deve avançar menos de 2%, muito abaixo da média anual de 4,2% verificada entre 2007 e 2011. A boa notícia é que há sinais positivos indicando retomada, mais lenta do que as ocorridas no passado recente, mas consistente.
É o próprio mercado quem diz, via boletim Focus, que o Brasil vai se levantar nos próximos trimestres. A esperança é que, depois de registrar baixíssimo crescimento nos primeiros seis meses do ano – 0,1% entre janeiro e março e, possivelmente, 0,3% entre abril e junho -, a indústria avance 1,5% no atual trimestre, quando comparada ao mesmo período do ano anterior, e 2,1% entre outubro e dezembro. O crescimento deve se acelerar no primeiro (3%) e segundo trimestres (4%) de 2013.
Com base no Focus, o BC espera expansão do setor de serviços de 3% em cada trimestre da segunda metade deste ano, quase o dobro da registrada no primeiro trimestre (1,6%). O ritmo seria mantido na primeira metade do ano que vem. Na agricultura, a expectativa é de forte recuperação nos próximos trimestres, depois da queda do primeiro trimestre (-8,5%) e do provável baixo desempenho no segundo (1,4%). Entre outubro e dezembro, a agricultura deve crescer 4% e acelerar nos seis meses seguintes, sempre na comparação com igual período do ano anterior.
A confiança do governo se baseia no que já vem ocorrendo em algumas áreas. A produção mensal de automóveis, por exemplo, depois de cair abaixo de 260 mil em janeiro, começou a se recuperar e, após o corte de IPI, tomou impulso. O mesmo ocorreu com caminhões. Os estoques de carros, que atingiram o pico em agosto de 2011, voltaram a crescer nos primeiros meses do ano, mas, depois da desoneração, estão declinando novamente.
O governo acredita que o ambiente é favorável à aceleração do PIB graças aos seguintes fatores: a taxa de desemprego está na mínima histórica (5,4% em maio, segundo a última medida nacional feita pelo IBGE); a criação de empregos formais diminuiu em quase 1 milhão desde fevereiro de 2011, mas segue forte (1,2 milhão nos 12 meses até junho deste ano); a massa salarial real voltou a crescer, avançando 5,1% nos 12 meses concluídos em maio (7,5%, quando comparada ao mesmo mês de 2011); a renda real também tornou a expandir-se (3,2% nos 12 meses até maio e 4,9% na comparação com maio do ano passado).
Ao contrário dos analistas que apontam a exaustão do modelo de crescimento baseado em consumo e crédito, o BC vê espaço para o país continuar crescendo por esse esquema, ajudado pelas medidas adotadas pelo governo para expandir a infraestrutura e aumentar a competitividade. O BC aposta no efeito “juros menores” – entre setembro de 2011 e junho deste ano, o juro médio cobrado de pessoas físicas caiu de 45,7% para 37,1% ao ano; e o das empresas recuou de 39% para 31,3% ao ano.
Embora a queda da SELIC tenha sido expressiva – 4,5 pontos no período -, a redução dos juros bancários foi modesta. Ainda assim, as autoridades acreditam que o crédito, mesmo crescendo a uma velocidade menor, cumprirá papel importante na retomada. Entre 2005 e 2008, cresceu ao ritmo de 25,2% ao ano; entre 2009 e 2011, subiu 18,3% e, nos 12 meses até maio, manteve essa velocidade (18,1%).
Técnicos do governo lembram que o grau de endividamento dos brasileiros, como proporção do PIB, é baixo quando comparado ao de outros países – 20,9% do PIB, face a 27,9% no Chile, 83,5% nos Estados Unidos e 207,4% do PIB no Reino Unido. O problema é que o peso dos juros na renda disponível dos brasileiros é bem maior – 22,1%, diante de 10,8% nos EUA, 9,9% no Chile e 2,2% no México. Em compensação, a inadimplência no Brasil não está entre as maiores do mundo.
Nem tudo é alegria no primeiro aniversário do “novo BC”. A inflação, embora tenha recuado de forma significativa, ainda é alta (5,2% nos 12 meses até julho); o BC segue sem conseguir coordenar satisfatoriamente as expectativas inflacionárias, que apontam para aumento do IPCA em 2013 (para 5,5%); e o regime de câmbio flutuante, um dos pilares da política econômica adotada com sucesso pelo país desde 1999, foi (temporariamente?) abandonado.”
FONTE: reportagem de Cristiano Romero publicada no jornal “Valor Econômico” e transcrita no blog de Luis Favre (http://blogdofavre.ig.com.br/2012/08/as-razoes-do-otimismo-do-governo/) [Imagem obtida no Google e adicionada por este blog ‘democracia&política’].
3 comentários:
Maria Tereza, bom deleite!!!
VÍDEO "Era Vargas", Contra Corrente especial "58 anos sem Getúlio"
Depoimento histórico a Beto Almeida(Carta Maior, TV Senado), com o jornalista Mauro SANTAYANA e o Chanceler Samuel PINHEIRO GUIMARÃES.
"...Para Samuel Pinheiro Guimarães uma das provas de que houve permanentemente uma preocupação dos setores dominantes em desconstruir a imagem da popularidade de Vargas é a rara divulgação das fotos sobre a gigantesca marcha de milhões de brasileiros no Rio de Janeiro que levou o corpo do ex-mandatário do Palácio do Catete até o aeroporto Santos Dumont.
“Houve sempre uma conspiração dos segmentos oligárquicos da sociedade, entre eles os da mídia, para que fosse totalmente apagada e adulterada a imagem real de Vargas como um presidente apoiado fortemente pelas massas populares”, declarou.
Santayanna, que estava presente nesta imensa manifestação relatou que os militares ligados à Aeronáutica, maior protagonista operativo da conspiração para derrubar Vargas, atiraram diversas vezes contra a multidão para intimidá-la.
“Primeiro, eram tiros de festim, depois balas de verdade. Lembro que um trabalhador negro que caminhava ao meu lado, com a capa do jornal Última Hora no peito, levou um tiro e morreu na hora. Apesar disso, a marcha continuou, e o corpo de Vargas foi levado até o aeroporto para ser embarcado para São Borja”, disse.
http://gilsonsampaio.blogspot.com.br/2012/08/era-vargas-depoimento-historico-m.html
Probus,
Muito interessante. Gostei. Obrigada.
Maria Tereza
Pois é, o vídeo é longo, mas é um prazer ver estes três dialogando sobre a Era Vargas.
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