MERCOSUL (já com a Venezuela, ao Norte)
Por Saul Leblon, na “Carta Maior”
“A adesão da Venezuela como membro pleno do MERCOSUL consolida, no coração da América Latina, uma referência de recorte progressista como talvez nunca tenha existido na região, com a abrangência institucional e o fôlego econômico intrínseco ao bloco agora liderado por Dilma Rousseff, Cristina Kirchner, Pepe Mujica e Chávez.
Cuba, certamente, exerceu magnetismo ideológico superior ao desse quarteto nos anos 60, mas esse ardor não se traduziu em organização duradoura com o alcance potencial que o MERCOSUL desfruta e deve ampliar, graças à incorporação do detentor da maior reserva de petróleo cru do mundo (a Venezuela tem 296,5 bilhões de barris, seguida da Arábia Saudita,com 264,5 bilhões de barris).
Trata-se de mais um enfrentamento no qual os interesses conservadores, muito bem refletidos no bombardeio midiático contrário a essa inclusão, foram habilidosamente derrotados. Não é um revés em torno de uma questiúncula pontual. Os que hoje, como há uma década, sopram o interdito à presença venezuelana, são os mesmos que, paralelamente, defenderam, à exaustão, a ALCA, como alternativa a uma inserção global do continente assumidamente subordinada e dependente do gigantesco mercado norte-americano. Foram derrotados.
Há pouco, no golpe contra Lugo, encrespado com a suspensão dos golpistas no âmbito do MERCOSUL, o jornal 'Estadão' destilou a nostalgia da velha agenda. Em editorial efervescente; aconselhou a direita paraguaia a responder à punição jogando-se nos braços dos EUA, de modo a consumar, pelo menos, mais uma mini-ALCA regional, expressão cunhada pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, em coluna recente em “Carta Maior”.
A opção de desenvolvimento regional integrado e soberano , reafirmada pela Cúpula de Brasília do MERCOSUL, insere-se, assim, numa espiral de enfrentamentos em que o guarda-chuva maior do conservadorismo verga sob o peso da dissolução da ordem neoliberal. É nessa esquina de derrotas históricas apreciáveis que a seção brasileira perfila armas e concentra tropas para fazer do julgamento do chamado “mensalão” uma espécie de 3º turno simbólico de sua anemia política.
O julgamento, que começa nesta 5ª feira, oferece-se como raro campo em que a relação de forças aparenta ser-lhes favorável. Mídia e Judiciário conjugam-se como donos de um espetáculo em que 38 réus, entre eles algumas das maiores lideranças do PT, 50 mil páginas processuais e 600 testemunhas ouvidas serão esmiuçadas e reiteradas em 15 sessões, somando-se um total de 90 horas de julgamento, a ocupar os holofotes noticiosos ao longo de todo o mês de agosto e 1ª quinzena de setembro.
Não se subestime o poder de fogo dessa parafernália. Mas não se perca o pano de fundo sobre a qual ela se dá. O conservadorismo aferra-se à batalha do dia anterior na esperança de apagar do imaginário social a percepção de que seus interesses e credo são parte de um mundo que ruiu. A ver.”
FONTE: escrito por Saul Leblon no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1047) [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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