[Deslealdade com a própria imagem criada pela mídia com um fim específico]
Por Fernando Brito
“O Dr. Joaquim Barbosa, diga-se antes de tudo, não
cometeu crime algum, perante a Lei, ao que se saiba.
Nada mais fez do que faz a elite política deste
país: serviu-se das brechas e dos favores da lei que privilegiam grupos de
servidores públicos dos altos cargos da República.
O Dr. Barbosa está pagando, apenas, pela imagem que
ele próprio quis projetar: a de alguém
que vivia de forma franciscana, como um Diógenes que, à procura de um homem
honesto, projetava sobre si mesmo a luz da lanterna da austeridade.
Tudo lhe compunha a imagem da vestal. Os
destemperos verbais, a metralhadora de críticas aos “políticos” – ele, chefe de um dos poderes políticos da
República, os contorcionismos fisicos e faciais provocados por seu problema de
coluna, enfim o retrato quase de um mártir da moralidade.
O Dr. Barbosa jamais se acanhou em afirmar
peremptoriamente a imoralidade do comportamento alheio, sem atentar que
imoralidade e ilegalidade não são a mesma coisa.
Se, por exemplo, José Dirceu tivesse, como ele
próprio fez, montado uma empresa nos EUA exclusivamente com a finalidade de
comprar um apartamento num condomínio de alto padrão em Miami, isso ajudaria a
formar a convicção, independente de prova, de que o ex-ministro se locupletava
à custa do cargo e que, portanto, era parte em esquemas escusos de
enriquecimento?
O Dr. Barbosa está sentindo na própria pele a
demolição de reputações que a mídia, quando o deseja, é capaz de fazer.
É muito mais rápido do que a veloz construção da
imagem de vestal com que ele, prazerosamente, se deliciou.
Ao permitir que um julgamento legal oscilasse ao
sabor do que a mídia dizia e queria, o Dr. Barbosa anulou os sistemas de freios
e contrapesos da Justiça, abolindo as provas como limite necessário entre o
legal e o ilegal.
O sistema judiciário, ao contrário do Pêndulo de
Foucault, não pode dilatar seus movimentos ao sabor da conjuntura política e
midiática.
Quando se o permite, e se transforma o legal em
político, o pêndulo pode retornar com força amplificada sobre o rosto de quem o
pôs a oscilar assim.
FONTE: escrito por Fernando
Brito em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com.br/index.php/a-vestal-sem-veus/). [Imagem do google e sua legenda acrescentados por este blog 'democracia&política'].
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