Por Eduardo Guimarães
“A semana terminou com outra pesquisa de opinião mostrando que a
aprovação e as intenções de voto da presidente Dilma Rousseff sofreram nova
queda. Após os institutos Datafolha e
MDA, agora foi o instituto IBOPE que não apenas confirmou os
números dos outros dois institutos como também mostrou que o percentual dos que
reprovam a gestão dela (49%) ultrapassou o dos que aprovam (45%).
Este Blog [“Cidadania”] tem entrevistado especialistas em estatísticas
políticas e econômicas a fim de que se possa entender o fenômeno de uma
governante que há dois meses batia recordes de popularidade e, de repente,
passou a enfrentar uma onda de reprovação como a que tem sido vista.
Nesse contexto, o sociólogo Marcos Coimbra, diretor do instituto Vox
Populi, revelou um fato importantíssimo em entrevista que deu ao Blog [“Cidadania”] no último dia 18: as
grandes manifestações de junho, que prosseguiram em julho – com menos ímpeto,
mas que prosseguiram –, não deram início à queda de popularidade da presidente
da República, mas a aceleraram.
As quedas da aprovação e das intenções de voto de Dilma já se faziam
sentir nas pesquisas de fim de maio, começo de junho. Abaixo, gráfico do
Datafolha revelando a trajetória descendente:
Duas semanas antes da entrevista de Marcos Coimbra ao Blog, o diretor do
Datafolha também falou a este espaço [“Cidadania”]
sobre pesquisa recém-divulgada por seu instituto. No dia 4 de julho, Mauro
Paulino deu entrevista a esta página [“Cidadania”] em que explicou que,
independentemente dos questionamentos à metodologia do Datafolha (que não leva em
consideração eleitores das zonas rurais do país), a detecção da queda da
presidente ocorrera dentro da mesma metodologia usada pelo instituto
anteriormente e, portanto, não havia o que questionar.
Fato: a afirmação de Paulino se mostrou certeira.
As entrevistas que os presidentes de dois dos quatro maiores institutos
de pesquisa do país deram ao Blog apontaram para o mesmo fenômeno apontado pela
pesquisa que o instituto MDA fez para a Confederação Nacional dos Transportes
no dia 16 de julho. O post Pesquisa mostra o pessimismo como causa da queda de Dilma
reporta
dado que o MDA apurou e que explica a razão pela qual Dilma perdeu tanta
popularidade em tão pouco tempo.
Na entrevista ao Blog, Coimbra analisou que a
renitência do noticiário negativo da grande mídia sobre a economia, que teve
início – com a contundência que se tem
visto – a partir de janeiro, terminou por "convencer" um setor bem maior da
sociedade de que "o país deve piorar futuramente".
As manifestações de junho e julho, portanto, só fizeram essa percepção
se acentuar. Ver tanta gente na rua reclamando furiosamente, depredando,
incendiando, agredindo, produzindo cenas de confronto entre si e contra a
polícia referendou o noticiário, levando à sensação de que, se tantos reclamam,
é porque o barco deve mesmo estar afundando.
Esse processo de busca pelo entendimento do fenômeno político em curso
no Brasil culmina, agora, em entrevista que o
ex-diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) Marcio Pochmann
também deu ao Blog na última sexta-feira (26).
Se realmente o descontentamento com o que ainda não aconteceu – uma grave crise econômica – estiver por
trás da considerável perda de popularidade e de intenções de voto de Dilma ao
longo de maio, junho e julho, a entrevista de Pochmann indica que essa situação
pode ter vida curta.
Apesar do terrorismo econômico midiático (expressão usada pelo ex-diretor do IPEA), os dados macroeconômicos
estão longe de apontar para o desastre. Segundo Pochmann, o Brasil deve fechar
o ano com desemprego em patamar similar ao de hoje (ou igual ou um pouco melhor), o país deve crescer mais do que no
ano passado e a inflação, como tem sido nos dez anos anteriores, deve ficar
dentro da meta do Banco Central.
Ora, se a razão da insatisfação com o governo Dilma decorre de crença de
grande parte da sociedade no catastrofismo (ou
terrorismo) econômico midiático, se as desgraças que esses órgãos de
“imprensa” de oposição não-assumida alardeiam não se materializarem os que se
deixaram levar por previsões pessimistas concluirão que embarcaram numa canoa
furada.
Claro que a mídia continuará prevendo desgraças, mas como falta muito
tempo para a eleição de 2014 a realidade terá que confirmar os vaticínios
midiáticos. Não será possível continuar por mais um ano e meio dizendo que a
desgraça virá. Se não vier, as pessoas terão que refletir.
No ano que vem, a esta hora, estaremos às portas do início da propaganda
eleitoral “gratuita” no rádio e na televisão. Naquele momento, as pessoas
começarão a refletir sobre como estão as suas vidas e se perguntarão se as
desgraças anunciadas se materializaram.
Se o país não tiver mergulhado no desemprego, na hiperinflação, com
salários e renda das famílias despencando e a economia em recessão, será
inevitável que o eleitor pergunte a si mesmo quem vai colocar no lugar de Dilma
e se vale a pena trocar o “técnico” de um time que, então, será impossível
negar que estará ganhando.
Como no período eleitoral a presidente terá como falar ao país sem intermediação
da mídia, que distorce e até censura seus argumentos enquanto ela, de forma
temerária, não usa a sua prerrogativa de convocar pronunciamentos de rádio e
TV, naquele momento – com a economia indo
bem, com o desemprego baixo e o país crescendo – a sociedade terá que
meditar.
Quando todos os lados puderem dizer o que bem entenderem, será simples
para a coalização governista lembrar o que o principal adversário de então – que, obviamente, será o PSDB – fez
quando ocupou o poder. Se a economia estiver indo bem tanto quanto hoje ou mais
– ou seja, se as previsões catastrofistas
não se materializarem – será praticamente impossível que o brasileiro
troque o certo pelo duvidoso.
Marina Silva, que foi quem mais ganhou com a perda de popularidade de
Dilma, será vista em sua real dimensão: uma outsider
sem base partidária e sem propostas concretas. Aécio Neves terá que
enfrentar o peso de sua trajetória e de pertencer ao PSDB – partido que a maioria sabe que afundou o
país quando governou – e Eduardo Campos, se realmente for para a disputa,
terá que explicar por que se opõe a um projeto que integrou.
A mídia e a oposição sabem de tudo isso e, assim, apostam em que as
manifestações e a perda de popularidade de Dilma piorem a economia. Há,
portanto, um processo de sabotagem do país, um legítimo crime de lesa-pátria
sendo cometido. Quanto pior, melhor.
Caberá à Dilma e ao PT, pois, entenderem que, mais do que criar factóides
para atender ao “clamor das ruas”, cabe cuidar da economia. Mais uma vez, será
ela que irá definir quem estará no Palácio do Planalto a partir de 1º de
janeiro de 2015. Há que pilotar o Brasil até outubro do ano que vem sem deixar
que a sabotagem destro-midiática funcione.
Sim, os agentes econômicos estão assustados e isso preocupa. O Brasil
depende de investimentos internos e externos para continuar mantendo o nível de
emprego e para que a atividade econômica não despenque. Contudo, apesar de o
capital ter o coração de um passarinho, este país é um manancial de lucros para
quem souber aproveitar e o capital sabe muito bem disso. Não rasga dinheiro.”
FONTE: escrito por Eduardo Guimarães em
seu blog “Cidadania” (http://www.blogdacidadania.com.br/2013/07/quem-voce-colocaria-no-lugar-de-dilma/).
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