Por Fernando Brito
“O jornalista Paulo Nogueira, editor do “Diário
do Centro do Mundo”, publicou ontem (26) um artigo irrepreensível – ou irretorquível, como diriam os advogados
– sobre as palavras e os atos do Dr. Joaquim Barbosa. Nele, lembra as
palavras do presidente do Supremo Tribunal Federal e a incoerência do seu
comportamento diante do que ele próprio diz.
Nogueira também trata da postura de Barbosa em
relação à ‘Globo’, com a qual mantém um convívio pra lá
de amistoso e de quem vem recebendo o presente do silêncio sobre os recentes
embrulhos quem que se vê envolvido.
É um texto que, infelizmente, só irá enrubescer as
faces da Ética, não a de seus personagens.
“O
PRESIDENTE JOAQUIM BARBOSA NÃO COMENTARÁ”
Paulo Nogueira
“A vida pública deve ser e
tem que ser vigiada pela imprensa.”
Joaquim Barbosa disse isso ao receber um prêmio do ‘Globo’, em
março passado.
“Não consigo ver a vida do Estado e de seus agentes e personagens
sem a vigilância da imprensa. Na minha concepção, a transparência e abertura
total e absoluta devem ser a regra. Não se deve ter mistério para aqueles que
exercem a atividade pública que eu exerço atualmente”, acrescentou.
Devia ser assim. Mas é assim?
Vamos aos poucos. Algumas semanas depois, Joaquim Barbosa (JB) usou
um avião da FAB para uma viagem inútil à Costa Rica.
Onde estava a imprensa para vigiá-lo no uso abusivo do avião e do
dinheiro do contribuinte?
Bem, estava a bordo. Uma jornalista do ‘Globo’ participou da boca
livre da Costa Rica, conforme revelado na ocasião pelo ‘Diário’.
E então você vai ler, depois, no próprio ‘Globo’: “A Procuradoria
da República no Distrito Federal abriu investigação preliminar para apurar
supostas irregularidades no uso de um avião da FAB (Força Aérea
Brasileira) pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).”
JB é poupado não apenas pelo ‘Globo’ como pela Procuradoria da
República.
É um jornalismo estranho, e uma estranha justiça.
O vôo de Costa Rica é significativo. Longe de se vigiarem, ‘Globo’
e JB, na verdade, gozam de uma proximidade cúmplice e nociva para a sociedade.
Desde o prêmio, um filho de JB foi admitido na ‘Globo’, para
trabalhar no programa de Luciano Huck.
É legal? É.
É imoral? É.
No código de ética dos juízes americanos, está escrito que algum
tipo de vínculo pessoal, como este que acabou unindo JB e a ‘Globo’ por um
filho, desqualifica um magistrado para julgar causas em que a ‘Globo’, no caso,
seja o réu.
Imaginemos que o processo de sonegação bilionária da ‘Globo’ na
operação dos direitos de transmissão da Copa de 2002 chegue ao STF.
Joaquim Barbosa se declarará impedido?
O código de ética dos juízes americanos também determina que os
magistrados deem as informações requeridas quando surge dúvida em relação a
aspectos financeiros de sua vida.
Recentemente, soube-se que JB comprou um apartamento em Miami
mediante o uso de uma empresa de fachada para não pagar impostos.
Para os que gostam de curiosidades, a empresa de JB recebeu o nome
de “Assas” por causa da conhecida faculdade de direito de Paris em que ele
gastou quatro anos em pós-graduação bancada pelo dinheiro público do
brasileiro.
Quatro anos, repito. JB foi um estudante moroso: fez a
faculdade de direito em Brasília em sete anos e meio.
O ‘Globo’ foi atrás de informações sobre o apartamento?
Pausa para rir.
Depois que se soube que o valor da transação registrado no
contrato foi zero, o jornalista Luís Nassif enviou uma mensagem ao
STF pedindo explicações.
A resposta: “Prezado Nassif, o presidente Joaquim Barbosa não
comentará.”
Voltemos a JB na premiação do Globo. (Em si um absurdo pela
proximidade que traz a pessoas que devem manter uma distância intransponível
pelo bem da sociedade.)
“Na minha concepção, a transparência e abertura total e absoluta
devem ser a regra. Não se deve ter mistério para aqueles que exercem a
atividade pública que eu exerço atualmente.”
Pausa para rir.
Transparência? Ausência de mistério?
É realmente estranha a noção de transparência de JB. Vale,
provavelmente, para os outros.
Com ou sem avião da FAB, mas sempre com voos bancados pelo
contribuinte, Joaquim Barbosa gosta de viajar. Isso, infelizmente, não o faz
produtivo.
Em Santa Catarina, com empresários, não deu para ler o processo da
Varig, que se arrasta há sete anos.
Um dia depois de uma manifestação que parou Florianópolis, ele se
ausentou de Brasília e foi para Santa Catarina, a convite da FIESC, associação
de empresários locais.
O encontro foi noticiado num site local. Foi memorável a resposta
de um leitor.
“Com todo respeito à pessoa do ministro Joaquim Barbosa, mas será
que não tem coisas mais importantes a fazer em Brasília? Como por exemplo:
Analisar o processo do caso Varig ao qual o ministro pediu vistas? Já são 7
anos de espera, 7 anos de desespero, 7 anos esperando que a justiça seja feita,
7 anos que os aposentados do AERUS estão esperando seus salários, 7 anos de
humilhação, aposentados sem dinheiro para alimentação, remédio e o mínimo para
suas subsistência, Será que isso não é importante para o ministro?”
Clap, clap, clap para o atento leitor.”
FONTE: escrito por Fernando
Brito em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com.br/index.php/dr-joaquim-e-a-globo-tudo-a-ver-nada-a-falar/).
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