[Marionete (as última semanas mostram que a carapuça serve para muitos)]
Por Eduardo Guimarães
“Quem melhor definiu a atual conjuntura política do país foi, de forma
surpreendentemente, o correspondente do diário espanhol “El País” no Brasil,
Juan Arias, em meados do mês passado. Antes de abordar o que ele disse, vale
explicar que a opinião desse jornalista chega a surpreender porque há anos ele
vem sendo um dos grandes críticos dos governos Lula e Dilma.
Abaixo, alguns trechos do artigo de Arias em questão, publicado no diário espanhol.
—–
”(…) Por
enquanto, o que existe é um consenso de que o Brasil, invejado
internacionalmente até agora, vive uma espécie de esquizofrenia ou paradoxo que
ainda deve ser analisado ou explicado.
(…)
Agora, surge um movimento de protesto quando, ao
longo dos últimos dez anos, o Brasil viveu como que anestesiado por seu êxito
compartilhado e aplaudido mundialmente.
(…)
O Brasil está pior do que há dez anos? Não, está
melhor. Está mais rico, tem menos pobres e testemunha o crescimento do seu
número de milionários. É mais democrático e menos desigual.
(…)
Por que então saem às ruas para protestar contra a
alta dos preços dos transportes públicos jovens que normalmente não usam esses
meios porque já têm carros, algo impensável há dez anos?
(…)
Por que protestam estudantes de famílias que até
pouco tempo não tinham sonhado em ver seus filhos pisarem na universidade? (…)”
—–
Quando se analisa a situação do país até ao menos o mês de maio, ganha
sentido o uso do termo “esquizofrenia” pelo jornalista espanhol, de forma a
caracterizar o sentimento que se formou entre grande parte dos brasileiros.
As pessoas parecem acreditar que as suas vidas estão piorando, daí as
manifestações de insatisfação, ainda que restritas a um setor minoritário da
sociedade, a classe média. Contudo, o mero olhar para indicadores sobre os
setores que mais afetam a vida do cidadão comum mostra que o país vem
melhorando, sim, e muito.
Vejamos os dados da Pesquisa
Mensal de Emprego (PME) do IBGE sobre o índice de desemprego no país de
2002 (quando foi adotada a atual
metodologia de mensuração do problema) até hoje.
O gráfico abaixo foi extraído do site do IBGE e mostra que, em um mundo em que a falta de postos
de trabalho se tornou uma epidemia, no nosso país o nível de emprego caminha no
sentido inverso, com geração de cada vez mais postos de trabalho e de salários
mais altos.
Alguns dizem que a inflação teria parte da responsabilidade pelo aumento
da insatisfação com o país. Contudo, ao analisarmos um dos indicadores mais
usados para mensurar o impacto dos preços sobre a vida das pessoas, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA), percebe-se que, tampouco, o aumento de preços chegou a um
nível que possa explicar alguma coisa.
Abaixo, os índices anuais do IPCA entre 1998 a 2012 e os dos meses de
2013:
—–
Quadro inflacionário medido pelo IPCA cheio, no
período 1998-2013:
1998 = 1,95%
1999 = 9,52%
2000 = 6,59%
2001 = 8,23%
2002 = 12,53%
2003 = 9,3%
2004 = 7,6%
2005 = 5,69%
2006 = 3,14%
2007 = 4,46%
2008 = 5,90%
2009 = 4,31%
2010 = 5,91%
2011 = 6,5%
2012 = 5,84%
2013 = 3,15% no ano e acumulado em 12 meses (entre janeiro e junho deste
ano) é de 6,7%.
Fonte IBGE
—–
Como se vê, não há nenhum estouro da inflação. O nível de inflação atual
permanece no patamar histórico. Contudo, o que se vê na mídia sobre o assunto
induz à crença de que estaríamos à beira de uma crise de hiperinflação.
Em relação aos salários, o valor deles nunca foi tão alto. Abaixo, dados
da última PME do IBGE, que mostra que, em relação a 2012, os salários continuam
crescendo.
SALÁRIOS (média):
-- Pessoas Ocupadas: (abril 2012) 1.949,81; (maio 2013) 2.010,69
-- Empregados no Setor Privado: (abril 2012) 1.749,34; (maio 2013)
1.841,51
-- Empregados no Setor Público: (abril 2012) 2.701,27; (maio 2013)
2.572,53
O que mais impressiona é que, em 2002, o salário médio do trabalhador
teve declínio de 8,3% em relação a 2001, passando a corresponder a R$ 889,
valor 28,3% menor do que o registrado em 1997.
Ou seja: o Brasil de 2013 é um país infinitamente melhor do que o de
2003, quando o PT chegou ao poder.
E além dos ganhos para todos, relatório sobre as cidades
latino-americanas feito pelo Programa das
Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), divulgado no ano
passado, mostrou que o Brasil diminuiu a desigualdade
social como nenhum outro país ao longo da última década.
Nos anos 1990, o Brasil era o mais desigual na região. Nesta década, foi
o país que mais reduziu a desigualdade enquanto em outros países ela cresceu.
Nos últimos anos, a renda dos brasileiros mais pobres cresceu 70% e a
dos mais ricos, cerca de 10%. E esses 10% mais pobres tiveram a renda aumentada
justamente por causa do trabalho, ou seja, dos novos empregos que estão sendo
gerados. E pelos aumentos reais do salário mínimo, claro.
A despeito de tudo isso, o grupo político que promoveu melhora tão
expressiva na vida deste povo se encontra diante de um paradoxo que, usando o
adequado termo do corresponde do jornal espanhol supracitado, pode ser
considerado “esquizofrênico”.
Uma parcela imensa do povo brasileiro está sendo enganada tanto por
grandes meios de comunicação quanto por partidos políticos de oposição. As pessoas
acham que o país está “indo mal” apesar de estar acontecendo justamente o
oposto.
Pesquisa recente do instituto MDA, feita para a Confederação Nacional dos Transportes, mostra que 84% dos
brasileiros aprovam protestos de rua que desembocaram em uma imensa queda de
popularidade da presidente Dilma Rousseff.
Essa grande maioria dos brasileiros, que até dois ou três meses atrás
dava enorme apoio ao grupo político que fez o país melhorar tanto, de repente
passou a achar que vive em um país à beira da ruína.
Tudo isso decorre de um artificialismo que, conforme entrevista de Marcos
Coimbra (sociólogo e diretor do instituto
Vox Populi) concedida ao Blog [Cidadania] na última quinta-feira [ver
transcrição neste blog em http://democraciapolitica.blogspot.com.br/2013/07/diretor-do-vox-populi-afirma-que.html] e
conforme a mesma pesquisa MDA citada acima, implantou na cabeça das pessoas uma
sensação de mal-estar.
Ora, como o país pode estar indo bem se vemos cenas de guerra como as
que vimos recentemente na zona Sul do Rio de Janeiro? São cenas que só se
explicam por um grave descontentamento social que só poderia decorrer de o
país, de fato, estar “indo mal”. É isso que o povo pensa.
Contudo, você, leitor, tem visto muita gente reclamando de ter perdido o
emprego ou de seu salário não estar comprando mais o que comprava antes? A sua
própria vida piorou? Muito pelo contrário. O Brasil vive uma febre de consumo
porque as pessoas têm dinheiro no bolso.
As ruas estão cada vez mais entupidas de carros zero quilômetro. As
residências mais humildes, hoje, estão sendo reformadas e entupidas de bens de
consumo como televisões, computadores, novos móveis etc. E, hoje, só não
encontra emprego quem não quer trabalhar.
O que é preciso, portanto, é fazer os brasileiros refletirem que quando
um país vai mal a vida das pessoas piora. Entretanto, quem pode dizer que sua
vida tem piorado? Só o que tem piorado é a percepção sobre o futuro.
Essa percepção se fundamenta, basicamente, na informação. As pessoas vêm
sendo bombardeadas pelos meios de comunicação de massa com cenas de guerra e
previsões catastrofistas e, juntando umas e outras, construíram essa percepção
pessimista.
Urge, portanto, que seja levada a cabo uma campanha de comunicação
governamental que faça os brasileiros refletirem sobre a realidade. O povo
brasileiro foi posto em pânico por ação de concessões públicas de rádio e
televisão que estão sendo usadas com fins políticos.
É mais simples do que parece desmontar a campanha insidiosa que foi
construída na mídia e nas ruas para apavorar a sociedade. Há fartura de dados
que comprovam que o país vai bem. Mas se uma campanha em sentido contrário não
for feita, o brasileiro, ano que vem, irá votar por mudança daquilo que, como
se vê neste texto, está dando muito certo.
Fica a dica.”
FONTE:
escrito por Eduardo Guimarães em seu blog “Cidadania” (http://www.blogdacidadania.com.br/2013/07/se-o-brasil-estivesse-em-crise-a-sua-vida-ja-teria-piorado/). [Legenda acrescentada por este blog 'democracia&política'].
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