Gasoduto
Do blog “Informação Incorrecta”
Na
base das várias Primaveras Árabes pode haver o petróleo e o gás?
A
resposta é: não. Ou melhor: não apenas isso.
“Se na Líbia a suspeita
é grande, no geral as várias "revoluções" têm outros objetivos. Mas os
hidrocarbonetos desenvolvem um papel que não pode ser ignorado. Podem não ser a
causa principal, mas ninguém em Washington ou Tel Aviv esqueceu-se da importância
de certas cosias.
Artigo
do presidente sírio, Bashar al-Assad
Qual é a verdade sobre
os recursos de petróleo e gás de nossas águas? Esta é a verdade: tanto nas nossas águas territoriais quanto
no subsolo. Estudos recentes têm mostrado grandes campos de gás nas nossas
águas. Então, aprendemos que outros campos estendem-se entre Egito, Palestina e
ao longo da costa, recursos que são mais abundantes no norte. Alguns dizem que
um dos motivos da crise síria é que é inaceitável essa riqueza ficar nas mãos
de um adversário, mas é claro que ninguém nos disse diretamente. É uma análise
lógica da situação e nós não podemos negar, nem considerá-lo um motivo
secundário. Essa é, talvez, a principal razão para o que está a acontecer na
Síria, mas, por enquanto, permanece no domínio da análise. Petróleo e gás não
como razões secundárias, mas como co-causa.
E não seria uma
novidade. De todo.
A força das grandes
potências está tanto nas armas mais sofisticadas quanto no controle dos
recursos energéticos (e, claro está na
capacidade de transformá-los): petróleo
e gás. Sobretudo o segundo que, segundo as previsões dos especialistas,
deverá tornar-se o principal combustível em 2030. É bem provável que o ar de
batalha entre EUA, Israel, Rússia, Irã e Síria cheire a gás. Isso leva a tentar
ver no conflito o choque dos interesses sobre a exploração e o transporte do
gás: Rússia-China-Irã-Síria de um lado,
EUA-Europa-Turquia-Arábia Saudita-Qatar-Israel do outro.
O consumo de gás
liquefeito na Europa é de 500 bilhões de metros cúbicos por ano, principalmente
gás da Rússia e do Qatar e Líbia. Atualmente, o Qatar fornece cerca de um
quarto das necessidades, mas espera-se que a dependência do gás russo irá
crescer em 2020, através do reforço das relações entre a Europa e a Rússia: algo a que os Estados Unidos e a União
Europeia de Bruxelas não querem.
OS
CINCO PROJETOS
Cinco projetos procuram conquistar o mercado europeu. Lembremos quais:
NORTH E SOUTH STREAM
Os dois primeiros são russos e baseiam-se nos consideráveis recursos da própria Rússia. O Nord Stream, que liga Rússia e Alemanha através do Mar Báltico, e o South Stream através da Bulgária antes de chegar na Grécia, Hungria, Áustria e norte da Itália, com uma capacidade de 60 bilhões de metros cúbicos por ano.
NABUCCO
O terceiro projeto é o Nabucco dos EUA, baseado nos recursos do Turcomenistão e Azerbaijão: Tenciona trazer gás para a Europa através da Turquia, Bulgária, Romênia, Hungria, República Checa, Eslováquia e Itália, com capacidade para transportar 31 bilhões de metros cúbicos por ano.
PROJETO IRÃ-IRAQUE-SÍRIA
O quarto é o Projeto Irã-Iraque-Síria: os três Países assinaram em Junho de 2011 um memorando de entendimento para o fornecimento de gás iraniano à Síria através do Iraque, com um gasoduto terrestre de cerca de 1500 km. Em seguida, o pipeline iria atravessar o Mar Mediterrâneo até a Grécia ("saltando" assim a Turquia). Custo: 10 bilhões de Dólares e capacidade de 40 bilhões de metros cúbicos por ano.
PROJETO QATAR
O quinto é chamado de Project Qatar: um gasoduto do Qatar para a Europa, com a participação de Turquia e Israel. Deveria ter origem no Qatar para depois chegar até a Síria através de Arábia Saudita e Jordânia. A partir do território sírio, continuaria em três direções: o porto de Latakia, na Síria, o porto de Tripoli, no Líbano e a Turquia. A capacidade dessa quinta pipeline não está claramente definida, mas pode ser maior do que a de Nabucco.
AS RESERVAS DO MEDITERRÂNEO
As mais recentes
descobertas de grandes jazidas de petróleo e de gás no Mediterrâneo oriental (águas territoriais afetadas: Grécia,
Turquia, Chipre, Síria, Líbano, Palestina, Egito e Israel) mudaram
radicalmente a situação geopolítica e poderiam estar na origem de rivalidade,
com consequências potencialmente terríveis.
O Instituto dos Serviços Geológicos dos Estados Unidos (o USGS) fala
de 9.700 bilhões de metros cúbicos de reservas de gás e de 3,4 bilhões de
barris de petróleo. Embora esses números estejam longe de serem confiáveis,
batalhas legais (a até algo mais) sobre a exploração estão em pleno andamento
entre os Países.
Israel nem esperou o
veredicto para assinar contratos com empresas norte-americanas e europeias para
iniciar a construção das explorações de Tamar e Leviathan, ao largo da
costa de Haifa. De acordo com as estimativas, deverá abranger grande parte das
suas necessidades e, por sua vez, exportar o excedente no Ocidente.
As incertezas
permanecem, dado o contexto e os conflitos de interesses em curso na região e
não só. É o caso do Qatar, sendo fácil para o Irã bloquear o trânsito do gás
árabe através do Estreito de Hormuz. Portanto, apoiado pelo Ocidente, o Qatar
tenta desesperadamente livrar-se dessa possibilidade, oferecendo "um
corredor de terra" para exportar o seu gás para a Europa, decidindo, assim,
atravessar...a Síria!
Esse é o projeto
abençoado pelos líderes dos Estados Unidos, mas verifica-se que essa não é a
vontade de Damasco, de Moscou e de Teerã. Se as estreitas relações entre as
três capitais permanecesse tal, o projeto do Qatar seria condenado. E o pequeno
País árabe, que já tinha investido na Síria cerca de 8 bilhões de dólares,
incluindo no setor do turismo e sem derrubar a liderança de Assad em benefício
do projeto, agora parece ter decidido abrir o caminho com a força devastadora.
Não sozinho, claro.”
FONTE: artigo do presidente sírio Bashar
al-Assad. Transcrito no blog “Informação Incorrecta”, e
no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/as-causas-das-diversas-primaveras-arabes).
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