“Os indicadores sociais estão para o Brasil como o crescimento econômico está para a China”
Paulo Henrique Amorim [PHA] conversou na terça-feira, por telefone, com o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos e presidente do IPEA, Marcelo Neri.
Neri analisa os números do IDHM, que analisa os municípios brasileiros, divulgados ontem.
Números que, segundo ele, marcaram uma ”mudança espetacular”, especialmente na última década: “ Os indicadores sociais estão para o Brasil como o crescimento econômico está para a China nesse período”, ele disse.
De acordo com Neri, a carteira assinada e os “ganhos trabalhistas” são os símbolos desse Brasil que, em 20 anos, passou de ”Muito Baixo” IDHM para uma classificação de “Alto Desenvolvimento Humano”, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento [PNUD].
Segue a integra da entrevista em áudio e texto.
1 – PHA: Ministro, a que o senhor atribuir esse vigoroso – se é que podemos chamar assim – crescimento do IDH municipal brasileiro entre 1991 e 2010?
Marcelo Neri: Acho que você pode chamar de “um vigoroso crescimento” do IDH municipal.
Para você ter uma ideia, em 1991, 85% dos municípios brasileiros estavam com o IDH em ”Muito Baixo” e, em 19 anos, esse número caiu para 0,6%.
Quer dizer, de 85% para 0,6% é uma mudança espetacular. Na coloração dos mapas a gente vê isso de uma forma muito clara: há uma mudança na cor dos mapas nesses 20 anos, com a cor mais forte nos municípios mais pobres.
Como o IDH é uma medida sintética – ele reflete educação, saúde e renda -, na verdade, ele congrega todo o conjunto de ações públicas da sociedade.
Ele sintetiza todas as transformações humanas dos 20 últimos anos.
Os avanços que mais chamam a atenção são os dados da expectativa de vida nesses 19 anos: nove anos – os brasileiros estão vivendo nove anos a mais.
Isso se deve à queda da mortalidade infantil, que eu acho que é a grande conquista da última década: ela caiu 46%, por causa da melhoria do acesso a serviços médicos e à constituição do SUS, entre outras coisas.
Nós tivemos um aumento na renda, durante a última década, de 220 reais por brasileiro – saiu de 500 para 700 e pouco por brasileiro (R$ 767,02 segundo o IBGE).
2 – PHA: Esses números são reais de quando ?
Marcelo Neri: Esses são reais de 2010, de agosto de 2010, é um crescimento em termos reais de quase 40% em uma década.
Isso se dá pela melhora trabalhista, a geração de empregos, o aumento dos salários, mas também pelos programas como o Bolsa Família.
3 – PHA: O que você chama de melhora trabalhista?
Marcelo Neri: É o aumento da ocupação – principalmente do emprego com carteira assinada -, principalmente a partir de 2004, quando passou, praticamente, a dobrar o número de empregos com carteira a cada ano.
Na verdade, o Brasil tem avançado no aumento de emprego e no aumento de salário.
Se a gente olhar os indicadores sociais, há redução de pobreza porque cresceu e reduziu desigualdade.
No fundo, o Brasil está fazendo uma espécie de caminho do meio.
Ele está se beneficiando de fatores econômicos, mas, também, de políticas sociais mais avançadas.
Então, ele (o IDHM) sintetiza avanços em várias frentes, de vários tipos de agentes: governos; sociedade civil; trabalhadores; empresário e isso em cada recanto do País.
4 – PHA: E ,nisso, o papel da carteira assinada você acha fundamental?
Marcelo Neri: Sim, eu acho que a carteira assinada foi o grande símbolo da mudança, mas isso mais recentemente, do fim da eleição de 2003 pra cá.
Eu acho que esse foi o grande avanço.
Na década de 90, houve uma crise trabalhista, na segunda metade (dos anos 90), (já que ) houve informalização, uma perda de direitos trabalhistas na primeira metade da década.
Então, é uma conquista mais recente essa geração de emprego formal. Apesar disso, a renda aumentou nos anos 90, e pode ser que a aposentadoria rural, a lei orgânica de assistência social tenham sido mais importantes.
Nos últimos anos, além da expansão do emprego formal, tem o "Bolsa Família" que tem papel importante, principalmente para os mais pobres, para os municípios mais pobres.
5 – PHA: O Bolsa Família também não ajudou à Educação, com a obrigatoriedade de que as mães mantenham os filhos na escola para receber o benefício?
Marcelo Neri: Ajuda, sem dúvida ajuda, ainda mais porque o relatório apontou que o maior desafio para a educação brasileira é o ensino médio.
Desde 2007, o Bolsa Família estendeu essa condicionalidade à faixa que deveria estar no ensino médio. A gente capta alguns impactos positivos.
Mas, como o Bolsa Família começa em 2003, lá, boa parte das crianças entre sete e catorze anos já estava na escola. Então, eu não diria que ali tenha provocado uma revolução – houve uma melhora.
Agora, entre 15 e 17 anos, e agora na pré-escola, que é uma revolução que a gente não tinha feito antes, ai há uma melhora clara.
6 – PHA: O estudo não capta os dois anos da presidenta Dilma. O que dá para intuir, a partir do que já se sabe, no seu Ministério, sobre esses dois anos da presidenta Dilma?
Marcelo Neri: É um período, sem dúvida, de continuidade desses avanços mais acelerados. Apesar de o PIB não ter tido nesses dois últimos anos uma expansão como teve entre 2004 e 2010, mas a renda das pessoas, o ganho trabalhista e a geração de empregos formais avançaram bastante.
Do outro, você teve maturação (e programas) e novas agendas, como a "Agenda da primeira infância", com o "Brasil Carinhoso" e, mais recentemente, o "Mais Médicos".
Uma série de novas ações sociais cujos impactos ainda não estão presentes nesse relatório.
A mensagem que agente tira desse período é que o Brasil, até 1980, era o segundo país em crescimento econômico no mundo, mas os indicadores sócias ficaram para trás.
Nesse período (de 1991 a 2010), a gente mostra um crescimento da renda das pessoas, até maior do que o do PIB. Em particular, nos últimos dez anos.
Os indicadores sociais estão para o Brasil como o crescimento econômico está para a China nesse período.
Estamos recuperando o terreno perdido. Os indicadores ainda são muito problemáticos – só pra quem entrar no site da pesquisa, você vai ver como o Brasil em 20 anos mudou completamente as cores dos indicadores.
(http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/130729_Atlas_PNUD2013.pdf )
7 – PHA: Esse crescimento é consistente? Ele pode inspirar confiança ou ele pode ser revertido?
Marcelo Neri: Revertido eu acho que não, eu acho que isso é uma conquista da sociedade.
A gente olha para trás e vê um grande avanço. Acho importante a gente não se acomodar, não entrar na zona de conforto. Ainda há muitas conquistas a serem feitas.
A própria metodologia do IDH foi revista. Por exemplo, na Educação – onde nós tivemos os maiores avanços -, no IDH anterior, bastava que a população acima de 15 estivesse alfabetizada. Agora, a população acima de 18 tem que ter o ensino fundamental completo. Então, o próprio IDH propõe uma agenda de desafios: ele olha para trás, mas, no fundo, quer olhar para frente.
É preciso ver o nível de transparência que existe na sociedade, e esse trabalho faz parte dessa cena. (O brasileiro) sabe, em cada lugar do Brasil, quais são os problemas e quais são as oportunidades.
O grau de importância que a população dá a questões como Educação e Saúde, por exemplo.
Nós fizemos uma pesquisa na semana passada que mostra que, entre as 16 prioridades, as três principais são: Saúde, Educação e Alimentação de qualidade, o que é uma aproximação da Renda.
Quer dizer, os três elementos do IDH são as três prioridades para a população brasileira.
Como nós estamos em uma Democracia, é de se esperar que essas prioridades se revertam em políticas públicas, como, aliás, está acontecendo.
Clique aqui para ler “Desenvolvimento Humano – fala, Dilma, fala !”.
CLIQUE AQUI para ouvir a entrevista.
FONTE: portal “Conversa Afiada” (http://www.conversaafiada.com.br/economia/2013/07/30/neri-e-o-idh-mudanca-foi-%E2%80%9Cespetacular%E2%80%9D/).
Paulo Henrique Amorim [PHA] conversou na terça-feira, por telefone, com o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos e presidente do IPEA, Marcelo Neri.
Neri analisa os números do IDHM, que analisa os municípios brasileiros, divulgados ontem.
Números que, segundo ele, marcaram uma ”mudança espetacular”, especialmente na última década: “ Os indicadores sociais estão para o Brasil como o crescimento econômico está para a China nesse período”, ele disse.
De acordo com Neri, a carteira assinada e os “ganhos trabalhistas” são os símbolos desse Brasil que, em 20 anos, passou de ”Muito Baixo” IDHM para uma classificação de “Alto Desenvolvimento Humano”, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento [PNUD].
Segue a integra da entrevista em áudio e texto.
1 – PHA: Ministro, a que o senhor atribuir esse vigoroso – se é que podemos chamar assim – crescimento do IDH municipal brasileiro entre 1991 e 2010?
Marcelo Neri: Acho que você pode chamar de “um vigoroso crescimento” do IDH municipal.
Para você ter uma ideia, em 1991, 85% dos municípios brasileiros estavam com o IDH em ”Muito Baixo” e, em 19 anos, esse número caiu para 0,6%.
Quer dizer, de 85% para 0,6% é uma mudança espetacular. Na coloração dos mapas a gente vê isso de uma forma muito clara: há uma mudança na cor dos mapas nesses 20 anos, com a cor mais forte nos municípios mais pobres.
Como o IDH é uma medida sintética – ele reflete educação, saúde e renda -, na verdade, ele congrega todo o conjunto de ações públicas da sociedade.
Ele sintetiza todas as transformações humanas dos 20 últimos anos.
Os avanços que mais chamam a atenção são os dados da expectativa de vida nesses 19 anos: nove anos – os brasileiros estão vivendo nove anos a mais.
Isso se deve à queda da mortalidade infantil, que eu acho que é a grande conquista da última década: ela caiu 46%, por causa da melhoria do acesso a serviços médicos e à constituição do SUS, entre outras coisas.
Nós tivemos um aumento na renda, durante a última década, de 220 reais por brasileiro – saiu de 500 para 700 e pouco por brasileiro (R$ 767,02 segundo o IBGE).
2 – PHA: Esses números são reais de quando ?
Marcelo Neri: Esses são reais de 2010, de agosto de 2010, é um crescimento em termos reais de quase 40% em uma década.
Isso se dá pela melhora trabalhista, a geração de empregos, o aumento dos salários, mas também pelos programas como o Bolsa Família.
3 – PHA: O que você chama de melhora trabalhista?
Marcelo Neri: É o aumento da ocupação – principalmente do emprego com carteira assinada -, principalmente a partir de 2004, quando passou, praticamente, a dobrar o número de empregos com carteira a cada ano.
Na verdade, o Brasil tem avançado no aumento de emprego e no aumento de salário.
Se a gente olhar os indicadores sociais, há redução de pobreza porque cresceu e reduziu desigualdade.
No fundo, o Brasil está fazendo uma espécie de caminho do meio.
Ele está se beneficiando de fatores econômicos, mas, também, de políticas sociais mais avançadas.
Então, ele (o IDHM) sintetiza avanços em várias frentes, de vários tipos de agentes: governos; sociedade civil; trabalhadores; empresário e isso em cada recanto do País.
4 – PHA: E ,nisso, o papel da carteira assinada você acha fundamental?
Marcelo Neri: Sim, eu acho que a carteira assinada foi o grande símbolo da mudança, mas isso mais recentemente, do fim da eleição de 2003 pra cá.
Eu acho que esse foi o grande avanço.
Na década de 90, houve uma crise trabalhista, na segunda metade (dos anos 90), (já que ) houve informalização, uma perda de direitos trabalhistas na primeira metade da década.
Então, é uma conquista mais recente essa geração de emprego formal. Apesar disso, a renda aumentou nos anos 90, e pode ser que a aposentadoria rural, a lei orgânica de assistência social tenham sido mais importantes.
Nos últimos anos, além da expansão do emprego formal, tem o "Bolsa Família" que tem papel importante, principalmente para os mais pobres, para os municípios mais pobres.
5 – PHA: O Bolsa Família também não ajudou à Educação, com a obrigatoriedade de que as mães mantenham os filhos na escola para receber o benefício?
Marcelo Neri: Ajuda, sem dúvida ajuda, ainda mais porque o relatório apontou que o maior desafio para a educação brasileira é o ensino médio.
Desde 2007, o Bolsa Família estendeu essa condicionalidade à faixa que deveria estar no ensino médio. A gente capta alguns impactos positivos.
Mas, como o Bolsa Família começa em 2003, lá, boa parte das crianças entre sete e catorze anos já estava na escola. Então, eu não diria que ali tenha provocado uma revolução – houve uma melhora.
Agora, entre 15 e 17 anos, e agora na pré-escola, que é uma revolução que a gente não tinha feito antes, ai há uma melhora clara.
6 – PHA: O estudo não capta os dois anos da presidenta Dilma. O que dá para intuir, a partir do que já se sabe, no seu Ministério, sobre esses dois anos da presidenta Dilma?
Marcelo Neri: É um período, sem dúvida, de continuidade desses avanços mais acelerados. Apesar de o PIB não ter tido nesses dois últimos anos uma expansão como teve entre 2004 e 2010, mas a renda das pessoas, o ganho trabalhista e a geração de empregos formais avançaram bastante.
Do outro, você teve maturação (e programas) e novas agendas, como a "Agenda da primeira infância", com o "Brasil Carinhoso" e, mais recentemente, o "Mais Médicos".
Uma série de novas ações sociais cujos impactos ainda não estão presentes nesse relatório.
A mensagem que agente tira desse período é que o Brasil, até 1980, era o segundo país em crescimento econômico no mundo, mas os indicadores sócias ficaram para trás.
Nesse período (de 1991 a 2010), a gente mostra um crescimento da renda das pessoas, até maior do que o do PIB. Em particular, nos últimos dez anos.
Os indicadores sociais estão para o Brasil como o crescimento econômico está para a China nesse período.
Estamos recuperando o terreno perdido. Os indicadores ainda são muito problemáticos – só pra quem entrar no site da pesquisa, você vai ver como o Brasil em 20 anos mudou completamente as cores dos indicadores.
(http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/130729_Atlas_PNUD2013.pdf )
7 – PHA: Esse crescimento é consistente? Ele pode inspirar confiança ou ele pode ser revertido?
Marcelo Neri: Revertido eu acho que não, eu acho que isso é uma conquista da sociedade.
A gente olha para trás e vê um grande avanço. Acho importante a gente não se acomodar, não entrar na zona de conforto. Ainda há muitas conquistas a serem feitas.
A própria metodologia do IDH foi revista. Por exemplo, na Educação – onde nós tivemos os maiores avanços -, no IDH anterior, bastava que a população acima de 15 estivesse alfabetizada. Agora, a população acima de 18 tem que ter o ensino fundamental completo. Então, o próprio IDH propõe uma agenda de desafios: ele olha para trás, mas, no fundo, quer olhar para frente.
É preciso ver o nível de transparência que existe na sociedade, e esse trabalho faz parte dessa cena. (O brasileiro) sabe, em cada lugar do Brasil, quais são os problemas e quais são as oportunidades.
O grau de importância que a população dá a questões como Educação e Saúde, por exemplo.
Nós fizemos uma pesquisa na semana passada que mostra que, entre as 16 prioridades, as três principais são: Saúde, Educação e Alimentação de qualidade, o que é uma aproximação da Renda.
Quer dizer, os três elementos do IDH são as três prioridades para a população brasileira.
Como nós estamos em uma Democracia, é de se esperar que essas prioridades se revertam em políticas públicas, como, aliás, está acontecendo.
Clique aqui para ler “Desenvolvimento Humano – fala, Dilma, fala !”.
CLIQUE AQUI para ouvir a entrevista.
FONTE: portal “Conversa Afiada” (http://www.conversaafiada.com.br/economia/2013/07/30/neri-e-o-idh-mudanca-foi-%E2%80%9Cespetacular%E2%80%9D/).
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