Por Miguel do Rosário, no blog “Tijolaço”
“Com a PEC 37 morta, o Ministério Público poderia investigar alguns tucanos, para variar. Reproduzo abaixo a reportagem da “IstoÉ” desta semana sobre o escândalo do metrô em São Paulo. Em pagamento à minha pirataria, disponibilizo um link para quem desejar asssinar a revista. Aqui.
O ESQUEMA QUE SAIU DOS TRILHOS
Um propinoduto criado para desviar milhões das obras do Metrô e dos trens metropolitanos foi montado durante os governos do PSDB em São Paulo. Lobistas e autoridades ligadas aos tucanos operavam por meio de empresas de fachada
Por Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de Moura e Sérgio Pardellas, na revista “IstoÉ”.
PROTEÇÃO GARANTIDA
Os governos tucanos de Mario Covas (abaixo), Geraldo Alckmin
e José Serra (acima) nada fizeram para conter o esquema de corrupção
SUSPEITOS
Segundo o ex-funcionário da Siemens, Ronaldo Moriyama (foto menor), diretor da MGE, e Décio Tambelli, ex-diretor do Metrô, integravam o esquema
“Com a PEC 37 morta, o Ministério Público poderia investigar alguns tucanos, para variar. Reproduzo abaixo a reportagem da “IstoÉ” desta semana sobre o escândalo do metrô em São Paulo. Em pagamento à minha pirataria, disponibilizo um link para quem desejar asssinar a revista. Aqui.
O ESQUEMA QUE SAIU DOS TRILHOS
Um propinoduto criado para desviar milhões das obras do Metrô e dos trens metropolitanos foi montado durante os governos do PSDB em São Paulo. Lobistas e autoridades ligadas aos tucanos operavam por meio de empresas de fachada
Por Alan Rodrigues, Pedro Marcondes de Moura e Sérgio Pardellas, na revista “IstoÉ”.
PROTEÇÃO GARANTIDA
Os governos tucanos de Mario Covas (abaixo), Geraldo Alckmin
e José Serra (acima) nada fizeram para conter o esquema de corrupção
Ao assinar um acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE),
a multinacional alemã Siemens lançou luz sobre um milionário propinoduto
mantido há quase 20 anos por sucessivos governos do PSDB em São Paulo para
desviar dinheiro das obras do Metrô e dos trens metropolitanos. Em troca de
imunidade civil e criminal para si e seus executivos, a empresa revelou como
ela e outras companhias se articularam na formação de cartéis para avançar
sobre licitações públicas na área de transporte sobre trilhos. Para vencerem
concorrências, com preços superfaturados, para manutenção, aquisição de trens,
construção de linhas férreas e metrôs durante os governos tucanos em São Paulo
– confessaram os executivos da
multinacional alemã –, os empresários manipularam licitações e corromperam
políticos e autoridades ligadas ao PSDB e servidores públicos de alto escalão.
O problema é que a prática criminosa, que trafegou sem restrições pelas
administrações de Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, já era alvo de
investigações, no Brasil e no Exterior, desde 2008 e nenhuma providência foi tomada
por nenhum governo tucano para que ela parasse. Pelo contrário. Desde que foram
feitas as primeiras investigações, tanto na Europa quanto no Brasil, as
empresas envolvidas continuaram a vencer licitações e a assinar contratos com o
governo do PSDB em São Paulo. O Ministério Público da Suíça identificou
pagamentos a personagens relacionados ao PSDB realizados pela francesa Alstom –
que compete com a Siemens na área de
maquinários de transporte e energia – em contrapartida a contratos obtidos.
Somente o MP de São Paulo abriu 15 inquéritos sobre o tema. Agora, diante deste
novo fato, é possível detalhar como age essa rede criminosa com conexões em
paraísos fiscais e que teria drenado, pelo menos, US$ 50 milhões do erário
paulista para abastecer o propinoduto tucano, segundo as investigações
concluídas na Europa.
SUSPEITOS
Segundo o ex-funcionário da Siemens, Ronaldo Moriyama (foto menor), diretor da MGE, e Décio Tambelli, ex-diretor do Metrô, integravam o esquema
As provas oferecidas pela Siemens e por seus executivos ao CADE são
contundentes. Entre elas, consta um depoimento bombástico prestado no Brasil em
junho de 2008 por um funcionário da Siemens da Alemanha. “ISTOÉ” teve acesso às
sete páginas da denúncia. Nelas, o ex-funcionário, que prestou depoimento
voluntário ao Ministério Público, revela como funciona o esquema de desvio de
dinheiro dos cofres públicos e fornece os nomes de autoridades e empresários
que participavam da tramoia. Segundo o ex-funcionário cujo nome é mantido em
sigilo, após ganhar uma licitação, a Siemens subcontratava uma empresa para
simular os serviços e, por meio dela, realizar o pagamento de propina. Foi o
que aconteceu em junho de 2002, durante o governo de Geraldo Alckmin, quando a empresa
alemã venceu o certame para manutenção preventiva de trens da série 3000 da
CPTM (Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos). À época, a Siemens
subcontratou a MGE Transportes. De acordo com uma planilha de pagamentos da
Siemens obtida por ISTOÉ, a empresa alemã pagou à MGE R$ 2,8 milhões até junho
de 2006. Desse total, pelo menos R$ 2,1 milhões foram sacados na boca do caixa
por representantes da MGE para serem distribuídos a políticos e diretores da
CPTM, segundo a denúncia. Para não deixar rastro da transação, os saques na
boca do caixa eram sempre inferiores a R$ 10 mil. Com isso, o Banco Central não
era notificado. “Durante muitos anos, a
Siemens vem subornando políticos, na sua maioria do PSDB, e diretores da CPTM”.
“A MGE é frequentemente utilizada
pela Siemens para pagamento de propina. Nesse caso, como de costume, a MGE
ficou encarregada de pagar a propina de 5% à diretoria da CPTM”, denunciou
o depoente ao Ministério Público paulista e ao ombudsman da empresa na
Alemanha. Ainda de acordo com o depoimento, estariam envolvidos no esquema o
diretor da MGE, Ronaldo Moriyama, segundo o delator “conhecido no mercado ferroviário por sua agressividade quando se fala
em subornar o pessoal do Metrô de SP e da CPTM”, Carlos Freyze David e
Décio Tambelli, respectivamente ex-presidente e ex-diretor do Metrô de São
Paulo, Luiz Lavorente, ex-diretor de Operações da CPTM, e Nelson Scaglioni,
ex-gerente de manutenção do metrô paulista. Scaglioni, diz o depoente, “está na folha de pagamento da MGE há dez
anos”. “Ele controla diversas
licitações como os lucrativos contratos de reforma dos motores de tração do
Metrô, onde a MGE deita e rola”. O encarregado de receber o dinheiro da
propina em mãos e repassar às autoridades era Lavorente. “O mesmo dizia que (os valores) eram repassados integralmente a
políticos do PSDB” de São Paulo e a partidos aliados. O modelo de operação
feito pela Siemens por meio da MGE Transportes se repetiu com outra empresa, a
japonesa Mitsui, segundo relato do funcionário da Siemens. Procurados por
ISTOÉ, Moriyama, Freyze, Tambelli, Lavorente e Scaglioni não foram encontrados.
A MGE, por sua vez, se nega a comentar as denúncias e disse que está
colaborando com as investigações.
Além de subcontratar empresas para simular serviços e servir de ponte
para o desvio de dinheiro público, o esquema que distribuiu propina durante os
governos do PSDB em São Paulo fluía a partir de operações internacionais. Nessa
outra vertente do esquema, para chegar às mãos dos políticos e servidores
públicos, a propina circulava em contas de pessoas físicas e jurídicas em
paraísos fiscais. Uma dessas transações contou, de acordo com o depoimento do
ex-funcionário da Siemens, com a participação dos lobistas Arthur Teixeira e
Sérgio Teixeira, através de suas respectivas empresas Procint E Constech e de
suas offshores no Uruguai, Leraway Consulting S/A e Gantown Consulting S/A. Nesse
caso específico, segundo o denunciante, a propina foi paga porque a Siemens, em
parceria com a Alstom, uma das integrantes do cartel denunciado ao CADE, ganhou
a licitação para implementação da linha G da CPTM. O acordo incluía uma
comissão de 5% para os lobistas, segundo contrato ao qual ISTOÉ teve acesso com
exclusividade, e de 7,5% a políticos do PSDB e a diretores da área de
transportes sobre trilho. “A Siemens AG
(Alemanha) e a Siemens Limitada (Brasil) assinaram um contrato com (as
offshores) a Leraway e com a Gantown para o pagamento da comissão”, afirma
o delator. As reuniões, acrescentou ele, para discutir a distribuição da
propina eram feitas em badaladas casas noturnas da capital paulista. Teriam
participado da formação do cartel as empresas Alstom, Bombardier, CAF, Siemens,
TTrans e Mitsui. Coube ao diretor da Mitsui, Masao Suzuki, guardar o documento
que estabelecia o escopo de fornecimento e os preços a serem praticados por
empresa na licitação.
Além de subcontratar empresas que serviram de ponte para o desvio
de dinheiro público, o esquema valeu-se de operações em paraísos fiscais
de dinheiro público, o esquema valeu-se de operações em paraísos fiscais
Os depoimentos obtidos por ISTOÉ vão além das investigações sobre o caso
iniciadas há cinco anos no Exterior. Em 2008, promotores da Alemanha, França e
Suíça, após prender e bloquear contas de executivos do grupo Siemens e da
francesa Alstom por suspeita de corrupção, descobriram que as empresas
mantinham uma prática de pagar propinas a servidores públicos em cerca de 30
países. Entre eles, o Brasil. Um dos nomes próximos aos tucanos que apareceram
na investigação dos promotores foi o de Robson Marinho, conselheiro do Tribunal
de Contas do Estado (TCE) nomeado pelo então governador tucano Mário Covas. No
período em que as propinas teriam sido negociadas, Marinho trabalhava
diretamente com Covas. Proprietário de uma ilha paradisíaca na região de
Paraty, no Rio de Janeiro, Marinho foi prefeito de São José dos Campos, ocupou
a coordenação da campanha eleitoral de Mário Covas em 1994 e foi chefe da Casa
Civil do governo do Estado de 1995 a abril de 1997. Numa colaboração entre
promotores de São Paulo e da Suíça, eles identificaram uma conta bancária
pertencente a Marinho que teria sido abastecida pela francesa Alstom. O MP
bloqueou cerca de US$ 1 milhão depositado. Marinho é até hoje alvo do MP de São
Paulo. Procurado, ele não respondeu ao contato de ISTOÉ. Mas, desde que
estourou o escândalo, ele, que era conhecido como “o homem da cozinha” – por sua proximidade com Covas –, tem
negado a sua participação em negociatas que beneficiaram a Alstom.
Entre as revelações feitas pela Siemens ao CADE em troca de imunidade
está a de que ela e outras gigantes do setor, como a francesa Alstom, a
canadense Bombardier, a espanhola CAF e a japonesa Mitsui, reuniram-se durante
anos para manipular por meios escusos o resultado de contratos na área de
transporte sobre trilhos. Entre as licitações envolvidas sob a gestão do PSDB
estão a fase 1 da Linha 5 do Metrô de São Paulo, as concorrências para a
manutenção dos trens das Séries 2.000, 3.000 e 2.100 da Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos (CPTM) e a extensão da Linha 2 do metrô de São Paulo.
Também ocorreram irregularidades no Projeto Boa Viagem da CPTM para reforma,
modernização e serviço de manutenção de trens, além de concorrências para
aquisição de carros de trens pela CPTM, com previsão de desenvolvimento de
sistemas, treinamento de pessoal, apoio técnico e serviços complementares.
Com a formação do cartel, as empresas combinavam preços e
condicionavam a derrota de um grupo delas à vitória em outra licitação
superfaturada
Com a formação do cartel, as empresas combinavam preços e condicionavam
a derrota de um grupo delas à vitória em outra licitação também superfaturada.
Outra estratégia comum era o compromisso de que aquela que ganhasse o certame
previamente acertado subcontratasse outra derrotada. Tamanha era a desfaçatez
dos negócios que os acordos por diversas vezes foram celebrados em reuniões nos
escritórios das empresas e referendados por correspondência eletrônica. No
início do mês, a Superintendência-Geral do CADE realizou busca e apreensão nas
sedes das companhias delatadas. A “Operação Linha Cruzada” da Polícia Federal
executou mandados judiciais em diversas cidades em São Paulo e Brasília. Apenas
em um local visitado, agentes da PF ficaram mais de 18 horas coletando
documentos. Ao abrir o esquema, a Siemens assinou um acordo de leniência, que
pode garantir à companhia e a seus executivos isenção caso o cartel seja
confirmado e condenado. A imunidade administrativa e criminal integral é
assegurada quando um participante do esquema denuncia o cartel, suspende a
prática e coopera com as investigações. Em caso de condenação, o cartel está
sujeito à multa que pode chegar a até 20% do faturamento bruto. O acordo entre
a Siemens e o CADE vem sendo negociado desde maio de 2012. Desde então, o órgão
exige que a multinacional alemã coopere fornecendo detalhes sobre a manipulação
de preços em licitações.
Só em contratos com os governos comandados pelo PSDB em São Paulo, duas
importantes integrantes do cartel apurado pelo CADE, Siemens e Alstom, faturaram
juntas até 2008 R$ 12,6 bilhões. “Os
tucanos têm a sensação de impunidade permanente. Estamos denunciando esse caso
há décadas. Entrarei com um processo de improbidade por omissão contra o
governador Geraldo Alckmin”, diz o deputado estadual do PT João Paulo
Rillo. Raras vezes um esquema de corrupção atravessou incólume por tantos
governos seguidos de um mesmo partido numa das principais capitais do País,
mesmo com réus confessos – no caso,
funcionários de uma das empresas participantes da tramoia, a Siemens –, e
com a existência de depoimentos contundentes no Brasil e no Exterior que
resultaram em pelo menos 15 processos no Ministério Público. Agora, espera-se
uma apuração profunda sobre a teia de corrupção montada pelos governos do PSDB
em São Paulo. No Palácio dos Bandeirantes, o governador Geraldo Alckmin disse
que espera rigor nas investigações e cobrará o dinheiro que tenha sido desviado
dos cofres públicos.”
FONTE: escrito por Miguel do
Rosário no blog “Tijolaço”. Montagem sobre foto de Carol
Guedes/Folhapress; Fotos: Ricardo Stuckert; Folhapress; Evelson de
Freitas/Ae. (fhttp://www.tijolaco.com.br/index.php/istoe-denuncia-desvio-tucano-de-r-50-milhoes-em-sp/).
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