Cegueira
Por Eduardo Guimarães
“Na última terça-feira, tive
confirmação final e inquestionável de que o Partido dos Trabalhadores e os
movimentos sociais ligados a ele não pretendem reagir à investida do
procurador-geral da República contra o ex-presidente Lula, investida essa que
resultou em abertura de inquérito na Polícia Federal para investigar denúncias
de Marcos Valério.
Mais do que isso: Lula não só
concorda com essa diretriz como é seu principal defensor, para não dizer que é
seu formulador.
Segundo informações que obtive, além
de o PT manter “silêncio absoluto” sobre a investigação contra Lula, considera
que a nota do partido sobre o julgamento do mensalão, divulgada em 14 de
novembro do ano passado, já “está de bom tamanho”.
O texto partidário, intitulado “Nota sobre a Ação Penal 470”, diz que “O PT, amparado no princípio da liberdade de expressão, critica e torna
pública sua discordância da decisão do Supremo Tribunal Federal que, no
julgamento da Ação Penal 470, condenou e imputou penas desproporcionais a
alguns de seus filiados”.
Além disso, em três tópicos, o
partido afirma que:
1 – O STF não garantiu amplo direito de defesa
2 – O STF deu valor de prova a indícios
3 – O domínio funcional do fato não dispensa provas
4 – Há risco de insegurança jurídica
5 – O STF fez um julgamento político.
Ao fim da nota, no tópico de
encerramento, intitulado “A luta pela
justiça continua”, o partido afirma que “Envidará todos os esforços para que a partidarização do Judiciário,
evidente no julgamento da Ação Penal 470, seja contida”.
Essa promessa do PT não passou de
retórica. O partido, na verdade, abandonou a luta, deu-se por vencido, não fez
mais nada sobre a condenação sem provas de alguns de seus membros mais
eminentes e, mais do que isso, não pretende fazer. Na verdade, quer “virar a
página”, deixando a “insegurança jurídica” a que alude se instalar.
O resultado não poderia ser outro.
Vendo que o PT não usaria a sua imensa capacidade de mobilização para lutar
contra um processo vergonhoso que transformou em “maior escândalo de corrupção da história” uma prática condenável de
caixa 2, sim, mas que existe em todos os partidos, a direita midiática, através
do procurador-geral que mantém teleguiado, agora investe contra Lula,
simplesmente o pilar que sustenta o PT e o governo Dilma.
Não há, porém, unanimidade no alto
comando do PT sobre a possibilidade de “virar a página” do episódio do
mensalão. Apesar de a maioria da cúpula petista – que inclui Lula – achar que os autores da ofensiva
judiciário-midiática contra o partido se darão por satisfeitos com as cabeças
do “núcleo político” da Ação Penal 470, há divergências. Porém, minoritárias e
conformadas.
A investigação pedida pelo MPF à
Polícia Federal contra Lula deveria servir de prova de que a direita-midiática
não irá desistir até que o PT seja completamente desmoralizado e que algum
grupo político que se disponha a reverter o processo de distribuição de renda em
curso no Brasil seja alçado ao Poder. Contudo, não está servindo.
A crença da cúpula petista é a de
que não havia como evitar a investigação da denúncia de Marcos Valério contra
Lula, mas como acredita que a Polícia Federal não encontrará nada contra o ex-presidente
e, ao fim de sua investigação, recomendará à Procuradoria da República do
Distrito Federal que arquive o processo, não há motivo para preocupação.
Esse é um erro descomunal e que pode
ser fatal ao projeto político-administrativo do PT para o Brasil. A
Procuradoria não está obrigada a acatar a recomendação da PF; pode,
simplesmente, desconhecê-la e enviar o processo à primeira instância da
Justiça.
E, ainda que pareça difícil, não há
garantia alguma de que, em uma manobra sob a liderança de Joaquim Barbosa, o
STF não venha a avocar o processo a si, tirando de Lula o direito ao duplo grau
de jurisdição por não ter “foro privilegiado”. E tudo isso, em tese, pode
ocorrer antes ou durante a eleição do ano que vem.
O julgamento do mensalão foi uma conspiração
entre mídia, oposição, Ministério Público e Judiciário. O PT, apesar de não
dizê-lo em sua nota discordante do julgamento que divulgou logo após ele ter
terminado, insinua exatamente isso.
Menos mal se a presidente Dilma vier
a nomear, em julho, um procurador-geral da República desvinculado de grupos
políticos, mas nenhuma escolha oferecerá garantia de que quem for nomeado não
mudará de conduta, entregando-se à chantagem destro-midiática.
Na entrevista de José Dirceu à “Folha
de São Paulo” publicada pelo jornal na quarta-feira, o entrevistado acusa o
ministro do STF Luiz Fux de, antes de ser indicado pela presidente ao cargo que
ora ocupa, ter lhe dito que o absolveria.
Traição, em política, não é exceção.
Seria exagero dizer que é regra?
Ora, o mesmo mecanismo de pressão
usado contra o “antigo” STF para condenar petistas sem provas pode ser usado
contra qualquer outro novo ministro nomeado ou por nomear, bem como contra o
novo procurador-geral da República.
Enquanto a “Globo” tiver um poder
tão grande de pressão, enquanto for tão temida, não haverá mais segurança
jurídica no Brasil. A jurisprudência e tudo o que se conhece sobre o
funcionamento da Justiça no país, não vale mais nada. Se o julgamento do
mensalão não serviu para mostrar isso ao PT, ele só acordará quando for tarde
demais.
Peço a você, leitor, que guarde
muito bem o que estou dizendo. Peço que, lá na frente, lembre-se de que alguém
alertou sobre o que viria. Apesar do desastre que esta previsão acarretará ao
país, ao se concretizar, ao menos as pessoas se darão conta de que este
blogueiro não o escreve chutes sobre o que não sabe.”
FONTE: escrito por Eduardo Guimarães em
seu blog “Cidadania” (http://www.blogdacidadania.com.br/2013/04/o-erro-fatal-do-pt/).
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