Por Saul Leblon
O governo enfrenta aqui a sua principal desvantagem.
A questão decisiva da confiança não argui, propriamente, os projetos de investimento previstos e em curso.
Não se questiona a sua pertinência.
Nem seria possível. O Brasil precisa aproveitar a alavanca do pré-sal para se reindustrializar. Tem que readequar uma infraestrutura desenhada para a sociedade elitista do século XIX, ao gigantesco mercado de massa revelado sob o ciclo de governos do PT.
As dimensões do que já se encontra em andamento colocam o país no ranking dos maiores canteiros de obras do mundo.
Das 50 maiores tapumes de infraestrutura e energia erguidos no planeta, 14 estão no Brasil.
A Europa se liquefaz; os EUA ainda tropeçam; as taxas juros são negativas em 90% dos mercados relevantes do globo.
Dados da “Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção” (SOBRATEMA): no Brasil, ao contrário, há 12.260 obras e investimentos importantes agendados para até 2016.
Em valores, R$ 1,5 trilhão. Pouco menos que a metade do PIB atual.
Onde a coisa emperra então?
Na barragem de fogo que fomenta a incerteza quanto à capacidade do atual governo de implantá-los.
A acusação é de “intervencionismo”.
'O governo Dilma quer decidir até a taxa de lucro dos projetos', uivam os órfãos nativos de Margareth Tatcher -- 'a ladra do copo de leite', assim homenageada pela classe trabalhadora inglesa por sua obra na gestão da merenda escolar, quando serviu como ministra da educação, em 1970. O dispositivo midiático fala à elite e aos investidores, locais e forâneos.
A mensagem é: não se arrisquem agora; se o PT for derrotado em 2014, as regras do jogo mudam.
A pregação pela alta dos juros lubrifica o convite à adesão e o nome da recompensa.
Na medida em que postergam prazos e projetos urgentes, a incerteza muda o pano de fundo econômico da disputa política.
É esse manejo psicológico do futuro brasileiro que dá à mídia, em 2014, uma importância ainda mais central do que já teve em 2002, 2006 e 2010.
Em 2002, o governo era comandado pelo “conservadorismo”.
Sua inoperância estava tão evidente que nem mesmo a barragem da mídia seria capaz de acobertá-la.
Lula ganhou.
Em 2006, o cerco montado em torno das denúncias do ‘mensalão’ colidiu de frente com a resistência social, embalada por uma economia em ascensão, em contraposição à memória ainda fresca do desastre tucano no poder.
Lula foi reeleito.
Em 2010, o país contabilizava os ganhos do enfrentamento contracíclico oposto ao colapso da ordem neoliberal.
Dilma venceu.
Hoje, a disposição das peças do xadrez é mais complexa.
O mantra do ‘Brasil que não dá certo’, mesmo sendo essencialmente uma conveniência ideológica, pode interferir objetivamente no cenário econômico e político.
O cerco a Lula, na medida em que possa enfraquecer o fiador de última instância de Dilma, converge no mesmo sentido.
Por isso a dimensão midiática da luta eleitoral hoje é mais decisiva do que o foi em 2002, 2006 e 2010.
Desengavetar o marco regulatório da mídia é imperativo.
Mas, talvez, não seja mais suficiente. O processo, previsivelmente longo, não responde à urgência da hora.
Como diz o governador Tarso Genro, em sintomática entrevista concedida a Marco Aurélio Weissheimer, o Brasil vive sob o bloqueio da informação.
A mídia interdita o debate e a solução dos problemas nacionais.
‘Temos, frequentemente, que recorrer à mídia alternativa para romper o cerco’, resumiu o líder gaúcho.
Chegou a hora de cogitá-la como a resposta da sensatez.”
“O jogo do ‘conservadorismo’ para 2014 está montado em duas cartas: uma de natureza diretamente política; outra, de manipulação das expectativas econômicas.
Com a primeira, pretende-se impedir que Lula transfira a força de seu prestígio ao palanque de Dilma.
O processo de investigação contra o ex-presidente, engendrado no circuito Gurgel, Valério & Associados, tem essa finalidade.
Com a segunda, trata-se de corroer a confiança do país no futuro, de modo a impedir que o capital privado migre do rentismo para o novo ciclo de investimento produtivo buscado pelo governo.
Ademais de jogar a economia num ‘corner’ inflacionário , dado o desequilíbrio entre oferta e demanda, o êxito dessa dupla cartada deixaria Dilma ‘solteira’, num palanque cercada de difamação administrativa por todos os lados.
Esse é o jogo.
O primeiro tempo corre nas manchetes e escaladas noticiosas.
O segundo, com os acréscimos previsíveis de golpes baixos, tomará todo o ano de 2014.
Como na mesa de truco, o sucesso da empreitada depende do poder de convencimento daqueles cujo blefe não contagiou o Brasil em 2002, 2006 e 2010.
Por que haveria de ser diferente agora?
Distorções intrínsecas à macroeconomia das últimas décadas (juro sideral e câmbio valorizado) , acrescidas do contágio lento, mas cumulativo, da desordem planetária neoliberal, afetam o crescimento brasileiro neste momento.
O vício rentista trazido dos anos 90 [FHC/PSDB], quando a taxa de juro chegou a estonteantes 40%, poupou o dinheiro graúdo dos percalços do mundo físico da produção, até meados de 2008.
A uma elite sempre dissociada do país, concedeu-se trocar o relevo acidentado da produção pela planície financeira do ganho alto, com risco zero e liquidez imediata.
Esse dinheiro bronzeado em férias permanentes em paraísos fiscais e locais está sendo induzido agora, a toque de juros baixos, a se sujar de graxa e poeira outra vez.
Não é uma travessia simples, mesmo quando todas as variáveis estão sob controle.
E, no caso, elas não estão.
A principal variável, a das expectativas em relação ao futuro brasileiro, está sendo minada, diariamente, pelo dispositivo midiático “conservador”.
Com a primeira, pretende-se impedir que Lula transfira a força de seu prestígio ao palanque de Dilma.
O processo de investigação contra o ex-presidente, engendrado no circuito Gurgel, Valério & Associados, tem essa finalidade.
Com a segunda, trata-se de corroer a confiança do país no futuro, de modo a impedir que o capital privado migre do rentismo para o novo ciclo de investimento produtivo buscado pelo governo.
Ademais de jogar a economia num ‘corner’ inflacionário , dado o desequilíbrio entre oferta e demanda, o êxito dessa dupla cartada deixaria Dilma ‘solteira’, num palanque cercada de difamação administrativa por todos os lados.
Esse é o jogo.
O primeiro tempo corre nas manchetes e escaladas noticiosas.
O segundo, com os acréscimos previsíveis de golpes baixos, tomará todo o ano de 2014.
Como na mesa de truco, o sucesso da empreitada depende do poder de convencimento daqueles cujo blefe não contagiou o Brasil em 2002, 2006 e 2010.
Por que haveria de ser diferente agora?
Distorções intrínsecas à macroeconomia das últimas décadas (juro sideral e câmbio valorizado) , acrescidas do contágio lento, mas cumulativo, da desordem planetária neoliberal, afetam o crescimento brasileiro neste momento.
O vício rentista trazido dos anos 90 [FHC/PSDB], quando a taxa de juro chegou a estonteantes 40%, poupou o dinheiro graúdo dos percalços do mundo físico da produção, até meados de 2008.
A uma elite sempre dissociada do país, concedeu-se trocar o relevo acidentado da produção pela planície financeira do ganho alto, com risco zero e liquidez imediata.
Esse dinheiro bronzeado em férias permanentes em paraísos fiscais e locais está sendo induzido agora, a toque de juros baixos, a se sujar de graxa e poeira outra vez.
Não é uma travessia simples, mesmo quando todas as variáveis estão sob controle.
E, no caso, elas não estão.
A principal variável, a das expectativas em relação ao futuro brasileiro, está sendo minada, diariamente, pelo dispositivo midiático “conservador”.
O governo enfrenta aqui a sua principal desvantagem.
A questão decisiva da confiança não argui, propriamente, os projetos de investimento previstos e em curso.
Não se questiona a sua pertinência.
Nem seria possível. O Brasil precisa aproveitar a alavanca do pré-sal para se reindustrializar. Tem que readequar uma infraestrutura desenhada para a sociedade elitista do século XIX, ao gigantesco mercado de massa revelado sob o ciclo de governos do PT.
As dimensões do que já se encontra em andamento colocam o país no ranking dos maiores canteiros de obras do mundo.
Das 50 maiores tapumes de infraestrutura e energia erguidos no planeta, 14 estão no Brasil.
A Europa se liquefaz; os EUA ainda tropeçam; as taxas juros são negativas em 90% dos mercados relevantes do globo.
Dados da “Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção” (SOBRATEMA): no Brasil, ao contrário, há 12.260 obras e investimentos importantes agendados para até 2016.
Em valores, R$ 1,5 trilhão. Pouco menos que a metade do PIB atual.
Onde a coisa emperra então?
Na barragem de fogo que fomenta a incerteza quanto à capacidade do atual governo de implantá-los.
A acusação é de “intervencionismo”.
'O governo Dilma quer decidir até a taxa de lucro dos projetos', uivam os órfãos nativos de Margareth Tatcher -- 'a ladra do copo de leite', assim homenageada pela classe trabalhadora inglesa por sua obra na gestão da merenda escolar, quando serviu como ministra da educação, em 1970. O dispositivo midiático fala à elite e aos investidores, locais e forâneos.
A mensagem é: não se arrisquem agora; se o PT for derrotado em 2014, as regras do jogo mudam.
A pregação pela alta dos juros lubrifica o convite à adesão e o nome da recompensa.
Na medida em que postergam prazos e projetos urgentes, a incerteza muda o pano de fundo econômico da disputa política.
É esse manejo psicológico do futuro brasileiro que dá à mídia, em 2014, uma importância ainda mais central do que já teve em 2002, 2006 e 2010.
Em 2002, o governo era comandado pelo “conservadorismo”.
Sua inoperância estava tão evidente que nem mesmo a barragem da mídia seria capaz de acobertá-la.
Lula ganhou.
Em 2006, o cerco montado em torno das denúncias do ‘mensalão’ colidiu de frente com a resistência social, embalada por uma economia em ascensão, em contraposição à memória ainda fresca do desastre tucano no poder.
Lula foi reeleito.
Em 2010, o país contabilizava os ganhos do enfrentamento contracíclico oposto ao colapso da ordem neoliberal.
Dilma venceu.
Hoje, a disposição das peças do xadrez é mais complexa.
O mantra do ‘Brasil que não dá certo’, mesmo sendo essencialmente uma conveniência ideológica, pode interferir objetivamente no cenário econômico e político.
O cerco a Lula, na medida em que possa enfraquecer o fiador de última instância de Dilma, converge no mesmo sentido.
Por isso a dimensão midiática da luta eleitoral hoje é mais decisiva do que o foi em 2002, 2006 e 2010.
Desengavetar o marco regulatório da mídia é imperativo.
Mas, talvez, não seja mais suficiente. O processo, previsivelmente longo, não responde à urgência da hora.
Como diz o governador Tarso Genro, em sintomática entrevista concedida a Marco Aurélio Weissheimer, o Brasil vive sob o bloqueio da informação.
A mídia interdita o debate e a solução dos problemas nacionais.
‘Temos, frequentemente, que recorrer à mídia alternativa para romper o cerco’, resumiu o líder gaúcho.
Recorrer aos veículos alternativos e aos canais públicos talvez não possa mais ser encarado como a alternativa do desespero.
Chegou a hora de cogitá-la como a resposta da sensatez.”
FONTE: escrito por Saul Leblon no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=1222). [Imagens do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].
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