domingo, 14 de abril de 2013

O FADO FÚNEBRE QUE ENSURDECE O BRASIL


Por Saul Leblon

“A ortodoxia está matando nações na Europa. O desemprego passa de 17 milhões de pessoas. Na Espanha, 26% da infância encontra-se enredada na teia da pobreza, que recobre a 4ª maior economia do euro. A cada 15 minutos uma família é despejada em Madrid, Barcelona ou em algum outro ponto do país.

Dizer “Estado mínimo” é eufemismo. O que restará depois dos sucessivos e inalcançáveis ajustes serão, talvez, protetorados, enclaves, colônias. Resíduos de nações expropriadas pelos mercados. O que é uma Nação se o patrimônio comum esfarela?

O uso de viaturas em muitas repartições portuguesas passou a depender da vaquinha dos funcionários para a gasolina. Papel higiênico deve ser trazido de casa.

Tatcher, o símbolo disso tudo,será enterrada dia 17 próximo. A lógica que encarnou enfrenta o seu crepúsculo, mas usa as próprias cinzas para tornar irrespirável a vida em sociedade. No Brasil, lamenta-se que Dilma não seja uma ‘ladra do copo de leite', a exemplo da ‘Dama de Ferro', que subtraiu a merenda da escola pública inglesa. O governo resiste em trazer a crise para dentro do país.

O rentismo inconsolável exige o ‘laissez-passer' para legitimar a ‘purga' que se inveja na Europa. Desdenha-se do ‘efeito provisório' das linhas de passagem erguidas para atravessar o cerco que se aperta. Como se o estado de exceção criado pela desordem neoliberal pudesse ser enfrentado com as ferramentas da rotina. De cada três palavras difundidas pelo noticiário, uma é “juro”.

Colunistas se ressentem de demissões frescas. Implora-se por números azedos para servir no café da manhã. É preciso abrir espaços à incerteza no jantar. Professores-banqueiros e candidatos à Presidência têm um prazo de validade contratado. A crise deve aportar antes que o PAC, a reindustrialização do pré-sal e a indução do investimento surtam efeito. Um centímetro de chão sólido atrapalha tudo. Abengalados ora no quilo do tomate, ora na novena pervertida em prol da seca, seu futuro pressupõe que o emprego, a casa, a comida, o salário e a autoestima sejam tragados em uma gigantesca restauração rentista, que solde a economia ao comboio do abismo.

Do governo o que se espera é que engrosse o fado fúnebre, a adestrar o país para ser um imenso Portugal.”

FONTE: escrito por Saul Leblon no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm) [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

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