“O ‘Tribunal Constitucional’ [TC],
a mais alta corte portuguesa, considerou inconstitucionais as medidas que
previam o fim das férias remuneradas para servidores, o fim de pagamentos de
horas/pesquisa para docentes e aposentados, e cortes nos seguros de saúde e
desemprego. O governo sentiu o golpe.
Por Flávio Aguiar
“Dar chumbo”, na expressão coloquial
portuguesa, significa “derrubar”, “descartar”. Foi o que fez o Tribunal
Constitucional, a mais alta corte portuguesa, em relação a quatro das medidas
preconizadas pelo governo conservador de Pedro Passos Coelho, visando
economizar 1,3 bilhão de euros como parte do programa de “austeridade” imposto
ao país em troca da “ajuda” de 78 bilhões para “reequilibrar” as finanças do
país. Nos termos do “Diário de Notícias” [DN] de Lisboa:
“A declaração [por parte do governo, comentada a seguir nesta matéria] ao país aconteceu na sequência do chumbo do TC, anunciado na sexta-feira, de quatro normas do OE para 2013, referentes à suspensão do pagamento do subsídio de férias a funcionários públicos, aos contratos de docência de investigação e aos pensionistas e a criação de uma taxa sobre as prestações por doença e por desemprego”.
Ou seja, o TC considerou inconstitucionais as medidas que previam o fim das férias remuneradas para servidores públicos, o fim de pagamentos de horas/pesquisa para docentes e aposentados (com redução, portanto), e cortes nos seguros de saúde e desemprego.
O governo sentiu o golpe. O mundo europeu também. Além de dar, Portugal levou chumbo. O custo do financiamento dos “bonds” financeiros portugueses a 10 anos subiu para até 6,6%, na segunda-feira, ao invés dos 6,4% da sexta-feira, já bastante altos. Ainda nas palavras do DN de Lisboa:
“O receio dos investidores quanto à capacidade de Portugal cumprir as metas do programa de estabilidade reflete-se nas maturidades a 10 anos, que, pela primeira vez, desde 28 de Fevereiro, superam os 6,5%, tendo avançado 20 pontos base. A cinco anos, a "yield" situava-se nos 5,3%”.
A “troika” (Banco Central Europeu, Comissão Européia e FMI) já anunciou que vai desembarcar imediatamente com armas e bagagens em Lisboa para rever a situação diante da decisão do TC. O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, disparou que Lisboa precisa encontrar medidas alternativas para manter o programa de cortes orçamentários.
“A declaração [por parte do governo, comentada a seguir nesta matéria] ao país aconteceu na sequência do chumbo do TC, anunciado na sexta-feira, de quatro normas do OE para 2013, referentes à suspensão do pagamento do subsídio de férias a funcionários públicos, aos contratos de docência de investigação e aos pensionistas e a criação de uma taxa sobre as prestações por doença e por desemprego”.
Ou seja, o TC considerou inconstitucionais as medidas que previam o fim das férias remuneradas para servidores públicos, o fim de pagamentos de horas/pesquisa para docentes e aposentados (com redução, portanto), e cortes nos seguros de saúde e desemprego.
O governo sentiu o golpe. O mundo europeu também. Além de dar, Portugal levou chumbo. O custo do financiamento dos “bonds” financeiros portugueses a 10 anos subiu para até 6,6%, na segunda-feira, ao invés dos 6,4% da sexta-feira, já bastante altos. Ainda nas palavras do DN de Lisboa:
“O receio dos investidores quanto à capacidade de Portugal cumprir as metas do programa de estabilidade reflete-se nas maturidades a 10 anos, que, pela primeira vez, desde 28 de Fevereiro, superam os 6,5%, tendo avançado 20 pontos base. A cinco anos, a "yield" situava-se nos 5,3%”.
A “troika” (Banco Central Europeu, Comissão Européia e FMI) já anunciou que vai desembarcar imediatamente com armas e bagagens em Lisboa para rever a situação diante da decisão do TC. O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, disparou que Lisboa precisa encontrar medidas alternativas para manter o programa de cortes orçamentários.
Ao invés de recuar, o governo promete
avançar, prevendo agora cortes alternativos nos investimentos em saúde e
educação. Os sindicatos de docentes temem até pela manutenção do ensino
gratuito nos níveis básico e médio. A oposição socialista denuncia que o país está
à míngua, com um milhão de pessoas (10% da população) fazendo filas diárias
para receber refeições gratuitas de instituição de caridade. O desemprego está
em 18%; em 2012, a economia encolheu 3,2% e espera-se uma redução de outros
2,3% para este ano. O líder da oposição, Antônio José Seguro, pediu a renúncia
do primeiro-ministro, mas o presidente Aníbal Cavaco Silva, também oriundo do
conservador Partido Social-Democrata, exortou-o a cumprir o mandato até 2015.
Esse novo capítulo da crise portuguesa, da Zona do Euro e da União Européia mostra, mais uma vez, como a democracia está se tornando cada vez mais uma pedra (ou chumbo...) no sapato dos administradores hegemônicos da economia continental. Essa administração se choca continuamente com a repartição de poderes natural numa democracia, assim como com a ideia de que o poder emana do povo e em seu nome será exercido. Esses choques assumiram diversas dimensões: no caso grego, por exemplo, a “ameaça” de fazer um plebiscito sobre o plano de “austeridade” derrubou, a mando daquela hegemonia e de seus arautos, o primeiro-ministro, impondo-se um “tecnocrata” no seu lugar, abrindo espaço para a volta dos “conservadores” ao governo.
Na Itália, a derrubada de Sílvio Berlusconi (não que este mereça alguma lágrima) deu-se pela imposição de outro "tecnocrata", que fez um governo altamente impopular, levando o país ao atual impasse político e propiciando o retorno algo triunfal do bufão antes defenestrado, além de promover a ascensão meteórica de um ex-comediante com uma campanha algo indecifrável. No Chipre, a troika chocou-se com a decisão parlamentar de não aprovar o plano surpreendente (ao confiscar parte das contas abaixo de 100 mil euros). A decisão foi revogada, ao mesmo tempo, entretanto, em que se discutia como contornar a necessidade de aprovação parlamentar para novos planos.
Na Espanha e em outros países ameaçados de cair na armadilha da “ajuda”, a discussão velada termina sempre a mesma: como contornar as consultas populares, uma vez que elas se dariam em povos que necessitam, antes de tudo, de “reeducação” e “disciplina”. Já que é impossível enviar essas populações para alguma Sibéria distante, como em outro país em outros tempos, o jeito é, muitas vezes, reeducá-las na marra mesmo, distribuindo cacetadas pelas praças e ruas, no caso de manifestações contrárias.
Em suma, Portugal levou e vai levar chumbo para manter sua economia e sua população chumbadas.”
FONTE: escrito por Flávio Aguiar, correspondente
internacional da “Carta Maior” em Berlim (http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=6041). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
[Imagens do Google adicionadas por este
blog ‘democracia&política’].
COMPLEMENTAÇÃO
EMPRÉSTIMO A
PORTUGAL É SUSPENSO
Do “Opera Mundi”
“Zona do euro suspende empréstimo financeiro a Portugal
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foi resposta à decisão do supremo português de declarar irregular parte do
Orçamento do Estado 2013
Portugal
vive a pior crise econômica de sua história. Entre medidas de austeridade e
polêmicas no governo, foi anunciado na segunda-feira (08/04) mais um revés aos
portugueses, desta vez pela própria “troika” (grupo de credores formado por Comissão Europeia, Fundo Monetário
Internacional e Banco Central Europeu).
A zona do euro suspendeu todas as
decisões relativas ao programa de aportes financeiros a Portugal, incluindo
prazos de pagamento dos empréstimos europeus. Além disso, a Troika cancelou o pagamento da próxima
parcela para o rolamento da dívida pública portuguesa.
A medida foi uma resposta à decisão do TC (Tribunal Constitucional) português que declarou no último sábado (06/04) como irregular parte do Orçamento do Estado 2013 proposto pelo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho e aprovado no final do ano passado pela maioria da Assembleia da República.
A medida foi uma resposta à decisão do TC (Tribunal Constitucional) português que declarou no último sábado (06/04) como irregular parte do Orçamento do Estado 2013 proposto pelo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho e aprovado no final do ano passado pela maioria da Assembleia da República.
Segundo informações do jornal
português “Público”,
o primeiro-ministro garantiu que não vai aumentar os impostos como forma de
compensar as normas orçamentais vetadas pelo TC. O governo priorizará medidas
austeras como, por exemplo, reduzir a despesa pública com segurança social,
saúde, educação e empresas públicas.
“Para compensar o desequilíbrio agora aberto no Orçamento em 2013, teremos de pôr em prática, ainda este ano, medidas de contenção da despesa pública, nomeadamente nas áreas da segurança social, saúde, educação e empresas públicas”, afirmou no domingo (08/04) o primeiro-ministro em pronunciamento público.
“Para compensar o desequilíbrio agora aberto no Orçamento em 2013, teremos de pôr em prática, ainda este ano, medidas de contenção da despesa pública, nomeadamente nas áreas da segurança social, saúde, educação e empresas públicas”, afirmou no domingo (08/04) o primeiro-ministro em pronunciamento público.
O governo português procura agora um
acordo capaz de liberar o próximo pagamento de empréstimo da Troika. No
entanto, a decisão do TC promete complicar este processo, pois será necessário
acrescentar cortes de gastos públicos no valor de 1,3 bilhões de reais. Com o
bloqueio feito pelo Tribunal, o acerto entre o governo português e a Troika
fica mais distante.
O pagamento da parcela do empréstimo
feito pelos credores europeus dependia de medidas de redução permanente das
despesas no valor de quatro bilhões de euros pretendidos pelo governo. Segundo
a Comissão Europeia, esse processo deve ser concluído até maio.”
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