Alguns “investidores financeiros” estão à
beira do pânico. Eles precisam convencer o País da necessidade de as taxas de
juros subirem. Foto: Olga Vlahou
Por Delfim Netto, na revista “Carta Capital”
“Não há nenhuma razão para imaginar
que a elevação do juro real, hoje, vá produzir alguma modificação importante na
taxa de inflação ou na sua expectativa. O que existe é um estado de excitação
provocado pelos “vendedores de vento”,
intermediários da pura especulação financeira, ora espremidos pela baixa do
juro e desesperadamente necessitados de uma alta da SELIC.
Não são agentes de financiamento da
produção, pois vivem de comprar e vender papéis da riqueza imaginária
representada pelos famosos derivativos cáusticos, em transações cada vez mais
complicadas com a baixa dos juros.
Alguns desses “investidores financeiros” estão à beira do pânico. Eles precisam
“vender” para a sociedade a ideia de que somente a elevação dos juros poderá
evitar o crescimento da inflação. Pretendem, na realidade, receber
antecipadamente as comissões relativas às aplicações dos incautos que pensam
estar construindo uma poupança para reforçar a aposentadoria, mas em lugar
disso estão empobrecendo.
Ninguém sabe se agora é
o momento apropriado para mexer nos juros nem quando será. A ata da mais
recente reunião do COPOM fala de incertezas “remanescentes” e recomenda
explicitamente a administração “com cautela” da política monetária. Acredito
que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tenha razões muito
seguras para também pedir cautela no trato da questão dos juros. Na verdade,
usa-se mais uma vez o axioma do também famoso economista Brainard, que diz o
seguinte: “Quando você não sabe muito bem
o que está fazendo, por favor, faça devagar”!
O grau de incertezas está refletido
no parágrafo 28 da referida ata: “Embora
a dinâmica inflacionária possa não representar um fenômeno temporário, mas uma
eventual acomodação da inflação em patamar mais elevado, o Comitê pondera que
incertezas remanescentes (de origem externa e interna) cercam o cenário
prospectivo e recomendam que a política monetária deva ser administrada com
cautela”.
O Banco Central tem razão ao
recomendar cautela e notar a existência de muita incerteza. Há mais incertezas
ainda capazes, se verificadas, de levar a uma redução da taxa de inflação e não
a pressões de alta. É uma constatação evidente de que o aumento da safra
agrícola, hoje em fase de colheita, terá consequências importantes no combate à
inflação. No momento, sofremos ainda os efeitos do choque de oferta produzido
pela queda da produção agrícola no ano passado, a ser corrigida provavelmente
com a maior oferta da safra 2012-2013.
Acresça-se a esse cenário
o fato de os preços de nossas importações virem a pressionar menos os preços
internos, não apenas por darem sinais de ter entrado em um período mais calmo,
mas também porque a depreciação do real será menor. Os preços externos estão
relativamente estáveis, em alguns casos até declinantes. A taxa de câmbio
nominal não subiu como no ano passado e, provavelmente, ficará estável durante
2013. São fatores a favor da redução das tensões inflacionárias. Houve, ainda,
a desoneração na tributação de importantes setores da produção e tudo isso
embute a possibilidade de redução do ritmo da inflação.
Por outro lado, tem servido de
estímulo às pressões altistas a frase do COPOM, “eventualmente a taxa de inflação pode ter mudado de patamar”.
Eventualmente, se mudou o patamar, o Banco Central observará o cenário de abril
e, depois em maio, caso seja verdade, o Comitê, mais uma vez eventualmente
poderá ter de corrigir os juros. Se não acontecer, não será preciso mexer,
mesmo porque é provável a taxa de inflação se reduzir um pouco no segundo
semestre em relação ao primeiro.
O grande drama disso é aceitar o
cabo de guerra com os vendedores de vento. Caso ceda e comece a corrigir os
juros já, quando se verificarem os fatos acima mencionados, todos sem relação
com a alta dos juros, as pessoas dirão: “Está
vendo, foi porque subiu o juro que a inflação baixou”. Será uma
mistificação a mais nesse processo.
Por isso, Alexandre Tombini tem toda
razão ao dizer que hoje, fundamentalmente, nós precisamos de bastante cautela.
É necessário observar com tranquilidade os fatos, seja qual for a situação
neste semestre. E acompanhar objetivamente o cenário até verificarmos se se
trata de um fenômeno passageiro a ser superado no segundo semestre ou se houve
uma mudança no comportamento da inflação, que exige tratamento completamente
diferente.”
FONTE: escrito por Delfim Netto, na revista “Carta Capital”. Transcrito no portal de Luis
Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-vendedores-de-vento-por-delfim-netto).
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